Como crítico de cinema, muitos conhecidos me procuram para saber minha opinião a cerca de filmes… E de séries de TV estadunidenses. O que tem levado a uma situação cada vez mais comum. Alguém pergunta o que acho de uma série específica e digo apenas que não assisti ainda e que estou cada vez menos interessado em acompanhar séries.
A reação varia. Alguns apenas dizem que eu deveria assistir ao conteúdo que eles adoram por ser muito bom; outros dizem que não sabem o que é a vida sem séries; e uma pessoa (colaboradora do blog) disse que é um absurdo porque perco todo um grupo de talentos relacionados justamente à área de meu interesse. A verdade, porém, é que quanto mais vejo séries, mais fica claro que se trata de uma mídia diferente do cinema. Motivo pelo qual sempre comento séries na sessão fora do cinema no blog.
Por que me sinto na obrigação de dizer isso em um espaço do blog? Desde os sucessos de Breaking Bad e Game of Thrones, já me meti em discussões ridículas acerca da qualidade das duas séries e sobre minha “obrigação” de assistir a ambas. E também porque chegou à minha atenção The Newsroom e House of Cards. Preciso falar um pouco sobre as quatro para chegar à conclusão acerca de porquê estou próximo de parar de assistir séries.
Primeiro, Breaking Bad. Fenômeno global que levou a diversas teorias e discussões acerca de ética, comportamento e responsabilidade do espectador. Assisti à primeira temporada completa e gostei muito. Cada episódio de Breaking Bad é um filmaço. Ótimo roteiro, grande direção e elenco afiado. Porém, é onde se encontra o problema. Como filme fechado, cada episódio é satisfatório. Ou seja, acabo de ver um episódio, estou feliz e não me sinto na necessidade de ver outro. E justamente por isso, não continuei.
Segundo, Game of Thrones. Li os dois primeiros livros e assisti a primeira e metade da segunda temporada. Ao contrário de Breaking Bad, cada episódio de Game of Thrones conta com um roteiro sem ritmo, direção preguiçosa e algumas construções de cenas muito vergonhosas. Entendo que a história é excelente (senão não teria lido dois livros), mas é como o escritor Ivan Mizanzuk disse uma vez: “Já não consigo ler um livro apenas porque a história é boa. Preciso que ele seja bem escrito”. Comigo acontece o mesmo em narrativa audiovisual. Pouco importa se é uma série ou um filme, a história por si só não é suficiente.
Agora, em relação às séries que gosto. The Newsroom conta com um dos melhores roteiros que já vi em uma série. Grandes diálogos, ritmo aceleradíssimo, porém envolvente, e uma direção decente. Assim como Breaking Bad, cada episódio da série é um grande filme. Mas, ao contrário daquela, os filmes são tão bons que quero logo assistir à continuação. E assim terminei todos os episódios.
House of Cards foi o motivo para vir escrever este texto. Assisti ao primeiro episódio outro dia e me peguei estupefato. Estava ali um material audiovisual que, se lançado nos cinemas, seria digno de concorrer a diversos Oscars. Não tem nada na série que pareça feito para a TV (o que acontece com todas as outras já citadas anteriormente). Justamente por isso, ela se destaca tanto.
Séries de TV possuem uma linguagem narrativa que precisa da continuidade e da falta de resoluções por episódios. O cinema não usa disso. Como séries precisam ser produzidas rapidamente para render o número de episódios obrigatórios, elas abrem mão de certo valor de produção e de narrativa para seguir com os episódios. Filmes precisam ser fechados em si. E como crítico e estudioso da área, aprendi a curtir essa experiência isolada. Por isso mesmo, não consigo gostar quando assisto a um piloto que apenas serve de apresentação para os problemas da série, nem de programas em que cada episódio é apenas uma vírgula no todo. Preciso ter essa satisfação isolada, e ela precisa ser tão boa para que eu queira ver mais.
Breaking Bad satisfaz por episódio, mas só empolga (de acordo com todos os relatos que escuto) lá pela terceira temporada. Sinto muito, mas preciso que me empolgue no começo. Um filme precisa empolgar por si só. Um livro precisa envolver logo na primeira página. Por que séries podem enrolar por 30, 40, 50 episódios para serem boas?
Compreendo que existe uma linguagem aí que não corresponde à minha área de especialidade, e por isso não julgo séries como séries, mas como julgo filmes. Ambos não são a mesma mídia, mas correspondem a audiovisual. E como tal, não consigo deixar passar tantos defeitos como as pessoas pedem para que eu faça. Sem sacanagem, já me disseram que preciso deixar defeitos passar. Infelizmente, a menos que tenha qualidade que me façam superar esses problemas, não sou capaz de fazê-lo.
FANTASTIC…