Nova produção dos irmãos Coen, Inside Llewin Davis é, surpreendentemente, o que o título brasileiro sugere. Llewin é um cantor de folk dos anos 1960, faz parte do movimento musical que surgiu no Greenwich Village e não é nada mais que um homem comum. Seguindo o padrão dos filmes dos diretores, Llewin é mais um protagonista que não vence na vida, apenas segue sendo um cara pequeno e desconhecido.
A história acompanha uma semana na vida de Llewin. Nessa semana ele precisa fazer escolhas decisivas para sua carreira musical ao mesmo tempo em que encontra personalidades que refletem a sua própria naquele cenário.
Cometi um erro antes de assistir este filme. Para compreendê-lo é preciso ter algum conhecimento sobre o movimento folk nova-iorquino do período. A proposta aqui é mostrar um pouco sobre a vida na região de origem do Bob Dylan. Melhor do que mostrar o início de uma personalidade tão grande, é mostrar a falta de perspectiva de uma personalidade que não passaria dali.
Para isso, os Coen pegaram como base o cantor Dave Van Ronk. Mas Llewin Davis não é o cantor real, é um personagem fictício com características dele. Nessa semana de Davis, ele encontra com diversas pessoas que também representam características de cantores reais.
É uma simulação daquela realidade. Llewin vem de uma família simples com empregos inexpressivos. Querendo fugir dessa vida, resolve sacrificar tudo para ser músico. Portanto dorme em casas de conhecidos e está constantemente viajando atrás de pequenos cachês e trabalhos.
Um casal de amigos, Jim e Jean, fazem o estilo de música que é mais popular. Por isso mesmo tem muito mais sucesso que Llewin. É deles que Llewin tira pequenos trabalhos e oportunidades. Jim pede apoio dele para suas gravações e Jean arranja pequenos shows. Llewin trata a busca por escolhas populares dele com desprezo e quer ela para si.
Ao mesmo tempo, com seu folk puramente urbano, Llewin não consegue ser mais verdadeiro que o cantor que veio do interior. O mais interessante é ver que o personagem percebe esse reflexo de si nos outros e se deixa ficar chocado com isso.
O filme retrata artistas e pessoas que produzem arte. Existe um status por trás da ideia de ser um artista. Mas, apesar de terem o status, eles não passam de pessoas. Eles podem ser presos, podem ser desprezados pelos outros e também esquecidos.
A fotografia é uma das mais bonitas que eu já vi em um filme. Existe sempre um holofote de luz dura entrando por fora do enquadramento. As cores são pálidas e o mundo é monocromático. Cria uma atmosfera na qual Llewin e seus colegas vivem cercados por uma neblina depressiva.
O elenco brilha. Oscar Isaac representa com muito talento o homem que acredita ser mais do que realmente é e vive sendo chocado com seu lugar no mundo. É um trabalho que exige muita habilidade. Acompanham ele a Carey Muligan e o Justin Timberlake como Jean e Jim. Ambos dão apoio para Isaac em cena. Além deles, John Goodman rouba a cena com um personagem cheio de trejeitos cuidadosamente criados.
Inside Llewin Davis é uma jornada de um fim. Um fim precoce, de um homem que não tem para onde voltar e que nunca teve muitas chances de ir para lugar algum.
FANTASTIC…