Foto por Jana Ferreira.
Lançado em 2015, O Último Cine Drive-in é um filme feito por brasilienses e que tem um monumento de Brasília – o cine drive-in – como uma das personagens da história. O longa dirigido por Iberê Carvalho concorre ao prêmio Netflix ao lado de outros 9 títulos brasileiros para ganhar distribuição via stream para o mundo inteiro.
“O cinema brasiliense tem conquistado mais espaço, mas em circuitos mais fechados. Com essa indicação, temos a chance de expor a nossa cultura para o mundo inteiro. Para a cidade, isso tem um valor incalculável. Diretores como Woody Allen já foram pagos para filmar em Paris e Roma, isso promove as cidades”, conta Iberê.
A história de Marlonbrando, que retorna à cidade para reencontrar sua mãe doente e o pai, dono de um cine drive-in e com quem não tem relação das melhores, retrata uma Brasília mais cotidiana e menos monumental. “Nossa identidade tem a ver com a urbanização e o cinema daqui ficou preso a isso por muito tempo. Em Cine, quis fazer o contrário”, explica o diretor.
A produção surgiu de uma colaboração em família. Maíra Carvalho, diretora de arte e irmã de Iberê, conta que as fontes usadas na busca de uma identidade visual para o filme foram diversas. “Foi um mergulho no tema. Vimos filmes juntos, usamos jornais e artigos públicos, fotos e até cartazes. Frequentamos o cine drive-in.”
Para o diretor, a tela gigante dentro do autódromo era o cenário perfeito para retratar a busca por laços perdidos no passado; o próprio cine drive-in é, na opinião dele, um lugar ‘perdido no tempo’. “É um espaço de memórias afetivas e isso constrói e ajuda a fortalecer a relação com a cidade”. Para produzir o filme, a equipe lançou na internet uma campanha em que pedia que as pessoas compartilhassem histórias que aconteceram no cine drive-in. Algumas delas foram usadas no filme.
Exemplar de uma espécie em extinção, o cine drive-in de Brasília é o último da América Latina e chegou muito perto de ser eliminado. “Por causa do filme, muita gente pôde ver que aquele espaço está lá e continua vivo. Com a campanha, o Agnelo (ex-governador do Distrito Federal) desistiu de demolir o drive-in e agora ele voltou a ser habitado. Ele tem uma característica específica, você pode ir com crianças, você pode fumar, pode ir de pijama, se quiser… Afinal de contas, você está dentro do seu carro”, diverte-se Maíra.
Parece ironia que um monumento do passado encontre abrigo em uma cidade que é símbolo de modernidade, mas a repercussão do filme que o retrata foi o que o revitalizou e o tornou, novamente, espaço vivo. “A repercussão foi inesperada. O filme partiu da vontade de falar sobre a relação entre pai e filho e como co-roteirista e diretor, pude colocar muito de mim nele.”
Essa busca pelo cine drive-in, na opinião de Iberê, vai além da revitalização. “O cine drive-in é um dos poucos lugares públicos para entretenimento que restaram. A piscina de ondas fechou, muita coisa fechou. As pessoas estão buscando esses lugares onde ainda é possível confraternizar.”
A votação do Prêmio Netflix vai até dia 02 de outubro (domingo). Para participar da votação, clique no link.