Só fui descobrir o nome verdadeiro de Jejum do Amor umas quatro horas depois que o filme havia acabado. O motivo principal é que o nome não faz sentido. Não tem jejum, apesar de ter um tanto de romance na trama. Ainda assim, o filme foi uma bem-vinda pausa nos filmes orientais da mostra Mondo Tarantino.
Hildy volta para a cidade grande para se despedir de seu ex-marido e ex-chefe e embarcar para Washington, onde pretende casar-se com seu novo amor. O problema é que o ex é o editor-chefe do Post, e o atual é um segurador pequeno da capital. Um é manipulador, ladrão e corrupto. O outro é um exemplo de bom comportamento, apesar de ser ingênuo e até um pouco burrinho. Um vai manipular e fazer de tudo para roubar Hildy do outro.
O problema é que Hildy faz um acordo com o diabo. Em troca de um bom amontoado de dinheiro, resolve fazer uma última matéria para o jornal. Um homem vai ser executado pelo estado por conta de um assassinato e Hildy tem a matéria que pode libertá-lo.
Quando chega à sala de imprensa da corte, Hildy começa a lidar com um amontoado de reviravoltas malucas. Todas elas causadas pelo nível de corrupção de todos os envolvidos. O delegado, o prefeito, toda a imprensa, os funcionários de todas essas pessoas. Perdidos nesse redemoinho, temos o homem acusado, sua namorada e Bruce, noivo de Hildy.
A protagonista sabe lidar com tudo e manipula tão bem quanto o resto dos personagens. Ela consegue ludibriar o prisioneiro a fazer um exame psicológico e demonstrar insanidade, consegue esconder informações de todos os colegas da imprensa e ameaçar autoridades políticas. Ela não é a mais culpada, mas também não é vítima de ninguém.
A princípio, achei que se tratava de um filme sobre a alma de Hildy. Seria um cabo de guerra entre sua profissão cheia de culpa e satisfação ou uma vida sem nenhum dos dois. Mas não, fica bem óbvio rapidamente com quem Hildy vai ficar e qual vai ser sua escolha no final. O negócio aqui é criticar, seja o jornalismo, a política ou até mesmo toda a sociedade.
Enquanto as personagens antiéticas são triunfantes, as de boa índole perdem tudo, desde dinheiro até a vida. Tudo dentro de uma sala de imprensa, onde as tensões vão aumentando em um nível inacreditável. É o resultado de um grande roteiro e da ótima direção do Howard Hawks. Os atores falam rapidamente com suas falas cortando as anteriores de seus colegas de cena. É um ritmo rápido e que requer bastante atenção.
Mas apesar de tudo isso, o filme é uma comédia. Para falar a verdade, é considerada a 19ª melhor comédia de todos os tempos. A opção de fazer do texto uma comédia faz com que a ironia de toda aquela deturpação fique mais paupável. Por pior que os personagens sejam, você ainda torce por eles e se diverte com suas maldades.
Cary Grant pareceu meio forçado para mim, mas a Hildy de Rosalind Russell é quem rouba o show. Eu acreditei nela como jornalista inescrupulosa e como mulher com peso na consciência.
Por sinal, é um mérito e tanto ter como protagonista uma mulher tão poderosa na década de 1940. Principalmente se levar em conta que no material original, uma peça de teatro, a personagem Hildy é um homem.
Pelo que pesquisei, existem três outras adaptações para o cinema do mesmo texto. Deve valer a pena dar uma conferida.
GERÔNIMOOOOOO…