Poucos anos atrás a franquia Harry Potter foi fechada nos cinemas com um golpe de marketing da Warner. Eles pegaram o último livro, dividiram em dois e lucraram o dobro. O resultado diminuiu a qualidade dos dois filmes, mas não impediu todos os outros estúdios de repetir a manobra. Crepúsculo fez isso, mas não me dei ao trabalho de verificar. O Hobbit levou ao extremo e picotou um filme em três, dois dos quais até o momento são um lixo. Agora é a vez do capítulo final de Jogos Vorazes ser mutilado.
Depois dos eventos do último filme, Katniss (Lawrence) foi levada para o Distrito 13, que se encontra numa guerra constante contra a Capital e o presidente Snow (Sutherland). Peeta (Hutcherson) está preso com os inimigos e ela precisa negociar com a presidente do Distrito 13, Coin (Moore), o resgate. Testemunhando o sofrimento dela, Gale (Hemsworth) sofre de ciúmes, mas a ajuda mesmo assim. Além dele, também a ajudam Effie (Banks), que foi exilada da Capital, Haymitch (Harrelson), Finnick (Claflin), Beetee (Wright) e Plutarch (Seymour Hoffman). Todos envolvidos num cabo de guerra político para determinar o rumo da guerra.
A franquia como um todo se foca em fazer crítica social em um futuro distópico. Em paralelo à discussão, tem um triângulo amoroso e um tanto de ação. O sofrimento de Katniss é feito para servir de analogia para os desequilíbrios entre classes sociais, o horror da sociedade do espetáculo, as prioridades de cada indivíduo em tempos de guerra e as ditaduras dos diversos sistemas políticos (sejam eles socialismo, democracia ou capitalismo).
Os roteiristas Peter Craig e Danny Strong tiveram a difícil missão de encontrar um momento mais movimentado no meio da trama do livro A Esperança e tornar ele o clímax. Para isso, era preciso fazer com que o desenvolvimento do enredo todo fosse adaptado. Se isso é possível ou não, é uma incógnita, mas a dupla não dá conta do recado. O primeiro ato do filme termina com quase uma hora de duração. O segundo ato se constitui de muitos espaços entre os eventos e fica parado. O suposto clímax pode ser chamado assim porque de fato é o momento mais cheio de suspense e ação, mas em termos de resolução, serve apenas como gancho para o próximo filme. Igual a um episódio fraco de série de TV.
Peeta preso próximo ao vilão. Clímax que não sustenta.
Francis Lawrence, o diretor, aproveita esses montes de espaços e tempos que sobram para criar mais cenas de construção narrativa e detalhamento visual. Por isso, explica o que aconteceu no Distrito 12 duas vezes. Tivesse deixado apenas a segunda, a cena seria mais chocante e a relação de Katniss com Gale seria muito mais forte. Lawrence é um grande diretor e revela isso diversas vezes. Seja com um corte inteligente e rápido para uma reação do Philip Seymour Hoffman durante um diálogo, com enquadramentos que sobrepõem personagens e indicam suas intenções ou apenas com sua habilidade de filmar ação e construir momentos emotivos.
Onde o diretor peca, porém, é no ritmo. Com tanto cuidado em construção de cena para mostrar a nova realidade assustadora da guerra, o ritmo vai embora pela janela. Aqui e ali são inseridas piadas isoladas que não aceleram nem divertem porque estão muito espalhadas através da duração.
A direção de arte pesa nas cores cinza porque o filme se passa quase inteiramente no Distrito 13. Essa parte do universo é bélica e se assemelha muito com uma ditadura totalitária. O indivíduo não tem voz e nem direito a revelar seus diferenciais. Por isso, poucas pessoas são vistas com maquiagem e roupas diferentes através do filme. Tudo é esterilizado e cinza.
A Jennifer Lawrence se entrega ao papel de Katniss, mas o fato de que ela passa basicamente o filme inteiro ficando surpresa com alguma coisa e gritando e chorando em reação atrapalha muito. O Donald Sutherland parece estar bem a vontade como o presidente vilão próximo à psicopatia. Josh Hutcherson aparece pouco, mas consegue colocar muita expressividade nos monólogos dúbios de Peeta. Julianne Moore brilha como a líder rebelde que pensa em estratégia antes das necessidades individuais. O Liam Hemsworth revela que é o irmão sem talento. Seu papel exige muita simpatia, coisa que ele não tem. A Elizabeth Banks está em uma participação pequena, mas é uma grande atriz que merecia papeis melhores. Colocar o Woody Harrelson em duas cenas rápidas é um pecado mortal. O tal Sam Claflin é muito bom e sai do deboche do segundo filme para um homem com pesar constante e capaz de se exibir quando é necessário. Jeffrey Wright está no filme só para constar. O Philip Seymour Hoffman está genial. Pequenos trejeitos inseridos entre palavras e pequenos gestos criam um personagem forte e rico apesar de sua aparição curta. Isso nas cenas em que é realmente ele. Não se sabe quais as cenas em que ele foi substituído por um dublê digital.
A Esperança – Parte 1 é o pior dos filmes Jogos Vorazes até o momento. Não por falta de profundidade ou falta de habilidade de seu diretor, mas pela obviedade de que não há conteúdo suficiente para fazer dois filmes. Ano que vem tem mais.
ALLONS-YYYYYYY…
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