Pouco mais de um ano depois, chega a continuação de Jogos Vorazes. A expectativa estava nas alturas. Adaptação de uma série de livros infanto-juvenis, o aspecto de distopia crítica conquistou os adultos também. Principalmente por conta de um diretor inteligente, que soube usar os recursos disponíveis para realizar a versão filmada do livro. Gary Ross saiu do batente e deixou o cargo nas mãos do Francis Lawrence, que deveria manter o nível e dar continuidade a um material já bom.
Após os eventos do primeiro filme, Katniss precisa aprender a lidar com as politicagens de ser uma vencedora dos Jogos Vorazes, ter um romance falso diante das câmeras e ainda sufocar uma revolução que a tem como musa. As consequências podem ser uma guerra civil que colocará em risco tudo o que conhece.
Em Chamas faz algo que eu gosto muito. Tudo o que acontece do começo ao fim do filme serve a um propósito. Neste caso, o propósito está maravilhosamente representado no último take. Cada pequeno evento é importante para que esse último quadro significante aconteça.
O problema é que este quadro é significante para o próximo filme. Em Chamas é uma ótima construção em toda a sua duração. Mas constrói para outro filme. É como se este plano final que significa tanto fosse o final do segundo ato de um clímax que nunca chega.
Francis Lawrence reprisa o estilo e estética de Ross no primeiro. Fotografia cinza para os distritos pobres, câmera de mão para cima e para baixo, cores no distrito rico e por aí vai. Não é surpresa, Lawrence passou dez anos atuando como diretor de videoclipes. Técnica para estética é seu forte.
Mas apenas usar uma boa estética sem conteúdo não quer dizer nada. Lawrence não se expressa, apenas reprisa seu antecessor. Todo o mérito pelo visual é mais de Ross que do diretor da vez. Por outro lado, Lawrence acerta em outras áreas.
O diretor sabe realizar cenas de ação que são críveis. Quando Katniss passa por algum perigo, sabe-se tudo o que acontece em cena. Considerando a câmera tremida e os cortes acelerados, é bem impressionante.
Lawrence também sabe conduzir o ritmo, apesar de ter que fazer um filme consideravelmente mais rápido, sem muitas ambientações. Como o primeiro fez esse trabalho tão bem, isso não é tão necessário aqui.
Mas qualquer defeito nas direções de cena é compensado dando destaque para as ótimas interpretações de seu elenco. Coloca closes em que olhares e expressões dizem muito, sem precisar de diálogos. É ótimo ver atores como o Donald Sutherland, o Philip Seymour Hoffman e a Jennifer Lawrence fazendo o que fazem melhor.
Deixar com que a história desenvolva sem muita interferência é importante porque a trama da franquia Jogos Vorazes é muito bem escrita. Os diálogos são inteligentes, mas ainda não são utilizados o tempo inteiro, criando momentos de silêncio muito bons. A história é desenvolvida de forma verossímil. A revolução começando no filme nunca é forçada ou exagerada.
Já ouvi muita gente dizendo que gosta de Game of Thrones porque é uma trama política cheia de ramificações em que nunca dá para prever o que vai acontecer. Devo dizer que o mesmo se dá comigo com Jogos Vorazes. Nunca sei o que vai acontecer e me encontro sempre surpreso e interessado com o que descubro.
Mas voltando ao grande problema do filme. Jogos Vorazes – Em Chamas é sobre uma transformação. Ela se dá na última cena e é um passo para o que quer que venha a acontecer nas próximas continuações. Justamente por isso fica a impressão de que o filme não terminou. Não tem terceiro ato nem clímax.
Entendo que é a segunda parte de uma série de livros. Mas outras adaptações que fizeram isso ainda davam um jeito de ter um terceiro ato. Até os oito Harry Potter ou os três Senhor dos Anéis tem um terceiro ato. Fazer um filme que constrói para um clímax que virá a acontecer na continuação faz com que Em Chamas não seja propriamente um filme, mas um episódio de série de TV.
Uma ótima série, sem dúvidas, mas uma série de TV. E aqui não estamos tratando de televisão. Em Chamas é um ingresso caro de cinema. Por mais que eu tenha gostado do material que vi, senti-me enganado com a sensação de que paguei o preço total de metade de um filme.
A sensação piora quando penso que o terceiro livro e próximo capítulo da franquia, vai ser dividido em dois filmes. O próximo vai ser só mais uma parte de um filme completo. E nós pagamos mais porque… Bem, a trama é bem escrita e deixa a vontade de saber o que vai acontecer, como um bom seriado de TV deve fazer.
P.S.: A Jena Malone está no filme, está maravilhosa e ainda tem uma cena bastante provocante, graças às deusas.
FANTASTIC…
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