Depois de três filmes, a franquia Jogos Vorazes já havia se provado um sucesso para um público que rende muito dinheiro, os jovens. Depois de Harry Potter e Crepúsculo, as aventuras da heroína Katniss Everdeen conseguiu chamar a atenção dos fãs das duas franquias, e também de adultos por tratar de distopia de maneira séria. A dúvida que fica é: o capítulo final pode se recuperar do terceiro filme que já era mais lento e sem ritmo?
Preocupada com a condição de Peeta (Josh Hutcherson), Katniss (Jennifer Lawrence) resolve se infiltrar nos últimos avanços contra a capital porque quer matar pessoalmente o presidente Snow (Donald Sutherland) por vingança. Companheiros e amigos de batalhas anteriores se unem a ela enquanto cruzam as armadilhas escondidas pela cidade. O que ela não esperava é que a presidente Coin (Julianne Moore) e Plutarch (Philip Seymour Hoffman) mandassem Peeta, ainda traumatizado pelas torturas do filme anterior, para o grupo.
O filme sofre do mesmo defeito que combaliu os capítulos finais de Harry Potter. Com o objetivo de dobrar a bilheteria da última parte da franquia, o estúdio impôs às produções que fossem divididas em duas. Uma história feita para ser absorvida de uma vez é estendida e partida no meio. Se A Esperança – Parte 1 não tinha ação e repetia diversas ideias pela falta do que desenvolver no roteiro, este conta com praticamente toda a ação do livro no qual os dois filmes se basearam. Ele deve funcionar isoladamente e ainda ser clímax de toda uma franquia.
Gale e Katniss diante do grupo. Não há tempo para sentir empatia.
Os roteiristas Peter Craig e Danny Strong (os mesmos do anterior), preenchem esse ato final com momentos ternos entre os personagens, mas se repetem demais. Mais de uma vez Peeta conversa com Katniss enquanto o grupo dorme e Gale escuta a conversa dos dois com ciúmes. Mais de uma vez ela conspira com Gale para abandonar a todos e seguir com a vingança sozinha. Mais de uma vez todos sofrem com as mortes que ocorrem com os indivíduos do grupo (com quem o espectador nem tem tempo de simpatizar para sentir a perda). Nem mesmo o bom texto salva da lentidão que surge disso. E a direção de Francis Lawrence não ajuda. As cenas de ação se resumem a imagens com closes muito aproximados entre cortes rápidos demais. É difícil acompanhar o que acontece e piora com um excesso de computação gráfica. Uma sequência enorme que se passa nos esgotos é horrenda. Metade é um diálogo repetido sobre o triângulo amoroso com o qual ninguém se importa e a outra é uma batalha mal iluminada na qual nunca se sabe se os inimigos atacaram este ou aquele personagem. O resultado: o filme é ainda mais lento que o anterior.
Como se não fosse suficiente, existe um outro defeito de roteiro que pesa muito. Quando Katniss e Gale finalmente se aproximam da finalização do plano, acontece uma reviravolta que anula tudo o que aconteceu até então. Toda a jornada para o coração da capital é, de certa forma, inútil. Todas as mortes, todos os sacrifícios, todos os planos de abandonar o grupo. É tudo em vão. Então o roteiro conduz a uma discussão final interessantíssima sobre jogos de poder político, ditaduras e democracia. A resolução final é anunciada pela cena anterior, o que acaba com todo o suspense, e o filme parte para a conclusão com meia hora de epílogos que também não ajudam a torná-lo mais divertido ou envolvente.
Na parte técnica, porém, é uma realização bem feita. Francis Lawrence é um bom diretor. Chega a ser surpreendente o fato de que a ação dele ficou mais fraca. Ele sempre gerenciou esta parte muito bem. Lawrence sabe quando dar destaque para as reações dos atores para construir drama, suspense e tensão. A direção de arte continua com o primor da série. A capital destruída pela guerra perde as cores, mesmo que os cidadãos continuem extravagantes.
Josh Hutcherson como Peeta. De longe uma das melhores coisas do filme.
A Jennifer Lawrence, ainda queridinha do mundo, perde muita força na interpretação porque a personagem, Katniss, foi reduzida a uma garota apaixonada. Em um contexto de guerra e discussão política, soa superficial e boba. Quem brilha no elenco jovem é o ótimo Josh Hutcherson, que dá dor e violência à tragédia de Peeta. Entre os veteranos, Donald Sutherland consegue acrescentar ainda mais camadas à maldade do presidente Snow. Ainda há o pecado dos filmes anteriores de dar uma ou duas cenas para grandes atores como o Philip Seymour Hoffman, o Woody Harrelson, o Stanley Tucci e a Julianne Moore.
Jogos Vorazes é uma franquia cujo desenvolvimento seguiu uma linha interessante. O primeiro filme é muito bom, o segundo manteve o nível, o terceiro ficou ruim e o último é péssimo. Caiu de qualidade gradativamente. O motivo, infelizmente, se encontra no roteiro desequilibrado e sem ritmo.
GERÔNIMOOOOOOOOOO…
Veja também o Versus que compara Jogos Vorazes com Battle Royale.
2 comentários em “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte Final (The Hunger Games: Mockingjay – Part 2 – 2015)”