De vez em quando eu cometo o erro de me empolgar demais com um filme que ninguém acredita que será bom. É um erro porque jogo a objetividade pela janela. Estou querendo tanto proteger a produção que acabo gostando de qualquer jeito. Só depois de um tempo revendo é que consigo ver com objetividade. Foi o que aconteceu com Speed Racer (que ainda acho um filme incrível), com Wolverine Origens (que descobri depois ser um filme terrível) e também com John Carter.
O filme é a adaptação da série de livros do Edgar Rice Burroughs chamada Barsoom. Nesses livros, um capitão sulista da guerra civil norte americana, John Carter, é levado a Marte por acidente e se envolve com a vida daquele mundo.
Barsoom foi uma série de periódicos de ficção típica do período. Burroughs lançava uma coluna que desenvolvia a história aos poucos a cada edição. Por isso mesmo a história do primeiro livro, Uma Princesa de Marte, é episódica e não possui uma estrutura muito adequada para o cinema.
O diretor e roteirista do filme, Andrew Stanton, resolveu este problema ao criar um conflito principal em Marte, com um antagonista e uma crise pessoal para o protagonista. Isso sem perder fatores importantes, como elementos do universo criado por Burroughs e eventos importantes dos livros.
Misturar tudo isso rendeu um filme com pouco mais de duas horas de duração que sofre bastante com problemas de ritmo e ambientação. Na corrida para apresentar todas essas coisas e ainda fazer uma história fechada, Stanton acabou criando um filme xablau.
Ele começa bem, criando um mistério relacionado à morte de Carter e à herança que deixou ao seu sobrinho Ned na Virgínia. Ned começa a leitura dos diários do tio e então começa a loucura. Em pouco menos de vinte minutos, passamos do acompanhar de um esfarrapado ex-capitão vagando pelos desertos do sul dos Estados Unidos para um homem capturado por uma raça belicista de Marte que salvou uma princesa de uma batalha. No meio do caminho, houve prisões, piadas, mortes, perseguições e apresentação de mil e um personagens importantes e não importantes para a trama principal.
É uma loucura. O desenvolvimento nessa parte tira qualquer pessoa da ambientação do filme. Carter, a princesa, uma espécie de pug alienígena (a coisa mais fofa já criada em computação gráfica) e uma marciana verde de quatro braços saem pelo planeta em busca da pista que pode leva-lo de volta para casa. Então o filme desacelera.
As locações grandiosas e belas, os efeitos especiais incrivelmente verossímeis e a crise humana do personagem principal fazem o filme funcionar novamente. Carter perdeu uma mulher e uma filha para a guerra e deixou de acreditar em conflitos políticos. Marte vai lhe dar novas razões pra viver e lutar.
O universo é tão rico e o desenvolvimento que Stanton cria é tão bonito que John Carter compensa o início xablau. Os valores são um pouco antiquados, mas é porque a base para a história já tem mais de cem anos.
As interpretações vão de medianas para baixo. Dando destaque para os marcianos feitos através da captura de movimento dos atores Willem Dafoe, Samantha Morton e Thomas Haden Church. Além deles, Mark Strong também rouba a cena com seu vilão que apresenta um contexto de ficção muito interessante. Taylor Kitsch dá alma para Carter, mas não segura o filme como ator principal. A princesa precisa de mais carisma, mas Lynn Collins compensa com sua beleza estonteante.
Não é a maravilha que lembrava de ter visto em Imax, mas ainda é um filme muito bom. Infelizmente não terá continuação, a única forma de saber como as aventuras de Carter continuam é lendo os livros e as histórias em quadrinhos.
FANTASTIC…
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