A ideia é maravilhosa: um jogo de tabuleiro mágico em que os desafios das casas, quando a pessoa gira os dados, é algo real vindo de alguma floresta. E uma vez que os animais e plantas assassinas saem da brincadeira, só o fim da partida libera o mundo das criaturas soltas. Com essa premissa, muita aventura, humor e efeitos especiais, o livro Jumanji foi adaptado para o clássico infanto-juvenil de 1995. E agora ele recebeu uma continuação.
Vinte e dois anos após os eventos do primeiro filme, quatro adolescentes ficam de detenção na escola e encontram um videogame chamado Jumanji entre as coisas armazenadas no colégio. Eles selecionam personagens e são sugados para a selva do jogo, onde habitam o corpo de estereótipos de aventureiros.
É onde a maior (mas não única) sacada deste Jumanji: Bem-Vindo à Selva reside. Ver quatro pessoas cheias com as dúvidas e inseguranças típicas de adolescentes na pele de adultos é um prato cheio para o humor. Mas quando os roteiristas Chris McKenna, Erik Sommers, Scott Rosenberg e Jeff Pinkner são espertos de fazer com que eles tenham características propensas a ensinar algo a cada um, é ainda mais interessante.
Assim, o nerd inseguro e covarde Spencer ganha os músculos de Dwayne Johnson; o atleta grandalhão e abusado Fridge é diminuído para o tamanho do Kevin Hart; a patricinha metida e egoísta Bethany fica acima do peso como o Jack Black; e a tímida e contida Martha recebe o abdômen definido e as roupas curtas de Karen Gillan.
Parece gratuito à princípio usar estes astros desta forma, mas a ideia serve para três propósitos. Primeiro, desenvolver os conflitos dos quatros garotos. Depois, fazer humor com atores que agem como crianças. E, por último, criticar os estereótipos de jogos eletrônicos.
E nenhuma dessas metas seria atingida se não fossem os ótimos atores. Porque os quatro conseguem convencer como os adolescentes com honestidade. O que faz com que tanto o desenvolvimento quanto o humor funcionem. Dwayne Johnson, já conhecido como uma montanha de músculos, abraça a vulnerabilidade de Spencer e gera momentos hilários e tocantes.
E ele ganha muito com a interação com Kevin Hart e Karen Gillan. O primeiro praticava bullying com Spencer antes da transformação. É muito engraçado ver um baixinho como Hart intimidar Johnson, e os dois atores sustentam o momento, o que também gera simpatia. E Gillan é a garota tímida que não consegue olhar para o colega por muito tempo porque não sabe lidar com esse novo interesse por homens que está desenvolvendo na puberdade.
Além de olhadas rápidas de interesse que dão lugar para a vergonha genuína, a atriz também faz rir muito nos momentos em que Martha fica acanhada com a pouca roupa do estereótipo de videogames em que encarnou. Ao mesmo tempo em que serve de crítica para a indústria de jogos eletrônicos que busca vender mulheres seminuas, é importante para a descoberta de auto confiança da personagem.
Por último, Jack Black está tão bem como uma patricinha no corpo de um homem obeso, que é fácil se convencer que os trejeitos e opiniões dele são de uma adolescente. Especialmente nos momentos em que ele se choca com os comportamentos do pênis recém descoberto. E a cena em que ele ensina Gillan a flertar é de morrer de rir.
Além da comédia, o filme acerta na ambientação de aventura. As regras do jogo são adaptações inteligentes do regulamento da versão de tabuleiro do original. Sempre que um desafio começa, os tambores tocam. O vilão se chama Van Pelt (um Bobby Cannavale terrivelmente desperdiçado). E o mapa das fases do videogame é revelado no fim como a trilha das casas no tabuleiro. Isso sem falar em como as peças aparecem aqui e ali e em uma referência bem colocada ao personagem de Robin Williams na produção anterior.
Ciente de que as toneladas de efeitos especiais não valem nada sem que as cenas de ação sejam sobre os personagens, o diretor Jake Kasdan faz questão de não dar destaque aos movimentos e à violência, mas ao que eles passam e decidem. Então uma invasão a um bunker não é sobre como os personagens se esgueiram, mas sobre como Martha precisa ser confiante para lidar com os capangas no local.
Assim, as cenas de ação não são nenhum destaque em si. Da mesma forma que os efeitos especiais não deixam de parecer falsos. Felizmente, como se trata de um videogame, eles não precisam convencer tanto. O outro defeito é a tentativa de Nick Jonas (dos Jonas Brothers) em tentar atuar seriamente como um jovem perdido há 20 anos em Jumanji.
Para a surpresa de todos, Jumanji: Bem-Vindo à Selva não é apenas uma continuação caça-níquel de um clássico da década de 1990. Devido ao afeto dos realizadores ao material original, também é uma aventura digna tanto do livro, quanto do filme. Daquelas que funcionariam muito bem naquelas tardes de domingo em busca de diversão pura.
P.S.: O filme contém uma cena de beijo destinada a entrar para a história.
P.S. 2: Veja minha participação na crítica em vídeo do filme com o canal Plano Crítico. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=ctesbsMBF0g]
Olá!
Nossa, que alívio que o Velha Onda aprovou esse filme! Sai do cinema muito satisfeita, pensando: Gente, tô maluca ou esse filme é mesmo muito bom?
Acho que muita gente, assim como eu, já esperava aquele velho filmeco mal feito, roteiro ruim, só pra satisfazer ego de diretor hollywoodiano.
Fico feliz em concordar com a crítica; o filme é divertido, bem escrito e atuado, muito engraçado e redondinho. Cada ator mostrou total comprometimento com a trama, e as risadas foram genuínas.
Aquele beijo… Não me permito comentar. Ficou pra história dos beijos no cinema. Alguma premiação teen vai ter que dar um prêmio pra eles, não é possível!
Ponto negativo leve só mesmo pro Nick Jonas que, apesar do esforço, precisa aceitar que sua carreira na música é que vai pagar suas contas. Não rolou.
Bjux!
Que legal que você também concordou Ana. Vejo muitas críticas negativas a este filme. Algumas muito bem fundamentadas, mas ainda não consigo deixar de gostar muito dele.