Existe um discurso recorrente em minha vida. Sempre que penso em falar sobre subjetividade e sensibilidade acerca da arte falo de um texto da Lya Luft. Oito anos atrás, quando Juno tomou os cinemas e a atenção do mundo, o Vinícius que amava filmes e queria entender a arte não conseguia compreender a obra como um todo. Ele lia de tudo sobre Juno e até reviu-o duas vezes nas salas de cinema. Até ter uma epifania com a Lya Luft. Sem perceber, oito anos depois o filme foi revisto sem compromisso e as reflexões bateram forte.
Os realizadores Diablo Cody (roteirista) e Jason Reitman (diretor) hoje ficaram perdidos e relativamente esquecidos no meio. Na época, porém, viraram as cabeças dos espectadores para trás. Juno era um rio de coisas. Entre sentimentos complexos, situações difíceis e um monte de conceitos que pessoas imaturas são incapazes de compreender, ele mostrou com singeleza e sem preconceitos diversas formas de amar em um mundo duro e cruel.
Quando se passa dos 18 anos, acredita-se que a pessoa é, pelo menos biologicamente, adulta. Na cabeça, especialmente nos dias de hoje, ela ainda pode ser um adolescente. O jovem de 20 anos que foi assistir a Juno três vezes no cinema não conseguia compreender porquê tanta gente amava a produção. Até ler o texto “Uma História de Delicadeza“, da Lya Luft para a revista Veja.
Na verdade o jovem ainda não havia entendido o filme, mas ele passou por uma reflexão pesada. Um jornalista da revista de cinema que ele lia desde criança disse que Juno era sobre romance. Outro disse que era sobre maturidade. Ainda haviam teorias sobre gravidez adolescente, adultos que se recusam a aceitar a idade, as diferenças entre ser pai com baixa e alta renda. Lya Luft apenas sentiu todas as dores de todos os personagens naqueles 90 minutos de filme e discorreu sobre isso.
Existe um outro texto no site acerca do assunto, por isso a questão não precisa ser aprofundada. A ideia de agora é diferente. O jovem envelheceu, passou por dois relacionamentos repletos de experiências negativas e positivas, descobriu que tinha depressão, aprendeu a viver com a doença, subiu e desceu em sonhos e expectativas e finalmente estudou cinema a fundo. Oito anos depois, ironicamente ele nem percebeu que foi em fevereiro de 2008 que assistiu a Juno pela primeira vez, encontrou a obra na Netflix. Por que não rever um filme cuja lembrança é extremamente positiva?
Que choque absurdo. Compreender as idas e vindas do roteiro. Como os cortes entre cenas são referentes a falas específicas. Como as cores dos personagens que querem adotar o bebê contam uma história. Como os enquadramentos de Reitman se repetem com diferenças de contexto, para mostrar as transformações através do tempo. Como a soberba direção de atores esconde detalhes da trama em olhares e sorrisos escondidos. Como a luz indica os locais de pertencimento da adolescente grávida.
Juno é complexo no roteiro enxuto. Trata de mil e uma questões que seriam difíceis para qualquer um. Com personagens adoráveis, críveis e sem maniqueísmo. E a experiência de revê-lo depois de tanto tempo foi mais um choque de realidade. Mais uma vez a lição de que sempre há um aspecto para ficar mais maduro e aprender volta à tona. Perceber que o Vina de 28 anos é tão mais maduro e inteligente que o de 20 é apenas uma recordação de que o Vina de 38 vai saber ainda mais coisas. Que ainda não é possível ter certeza de nada em relação ao mundo. Que todo mundo cresce constantemente e que não há respostas fáceis.
E mais uma vez, Juno se revela um filme tão importante para a vida. Mesmo que todos os atores e realizadores já sejam conhecidos por outras coisas atualmente.
FANTASTIC…