Sábado. Todos os meu planos deram errado e me peguei trabalhando às dez da noite. Quando percebi a situação fiquei desconcertado e resolvi tomar uma atitude. Peguei meu blu-ray ainda sem uso de Jurassic Park e tive minha sessão particular de um arrasa quarteirões. Foi justamente o que Spielberg e companhia me proporcionaram.
Quando escrevi sobre 50% expliquei sobre aqueles filmes em que não dá para ser objetivo. Foi mais ou menos o que aconteceu aqui. Jurassic Park foi uma parte tão frequente da minha infância que achava que assistiria ao filme já sabendo tudo o que aconteceria. Mas a idade nos faz ver as coisas com uma objetividade diferente.
Vi padrões através do roteiro que não conseguia quando mais novo e consegui gostar do filme ainda mais. Quando o helicóptero chega na ilha e a trilha já clássica do John Williams sobe foi impossível conter um arrepio subindo pela espinha. Era uma nostalgia sincera e emocionante.
É preciso dar o braço a torcer. Spielberg e seu roteirista David Koepp são gênios. Não começam o filme mostrando dinossauros nem falam sobre eles enquanto não aparecem. Abre com um acidente com um animal desconhecido que resulta na morte de um funcionário.
Enquanto a empresa sofre com o processo da família do falecido, os advogados forçam os investidores a fazerem um tour prévio à abertura do parque com um grupo de cientistas e paleontólogos. Ao final, o grupo dará o aval que poderá tornar a opinião pública a favor da empreitada.
Seria ainda mais genial se as pessoas que fossem assistir o filme pela primeira vez não soubessem do que se trata. A primeira vez em que se revela os animais do parque é quando o dono, John Hammond, finalmente fala que é de dinossauros e que possuem um tiranossauro.
Até então, levanta-se o suspense. O acidente do começo, uma escavação de um mosquito, paleontólogos escavando uma ossada de velociraptor sendo convencidos ao passeio no parque. Apresentação do antagonista, que pretende roubar amostras de DNA dos espécimes. Outro personagem aparece, um cientista meio cafajeste. Todos sem certeza do que vem a seguir.
Então, quando estão em uma cena simples, a paleontobotânica fala que a planta que está segurando deveria estar extinta a milhões de anos. Enquanto todos os outros personagens encaram boquiabertos alguma coisa fora de quadro. Ela finalmente vê o que está chamando tanto a atenção dos outros e vemos um brontossauro comendo folhas de uma árvore.
Pronto, dinossauros. E como Spielberg filma isso bem. É um controle absurdo do que está enquadrado. Cria suspense, engana, sabe quando mostrar e quando deixar o espectador se perguntando o que diabos está acontecendo.
Logo depois da apresentação dos animais, começa a discussão. Outra coisa que me surpreendeu nessa revisão. São tantos os níveis da discussão e da profundidade que surpreende em um filme tão clássico por ser comercial. Cada personagem cientista levanta uma questão importante.
Um questiona o controle sobre o que os donos do parque realizaram. Outra questiona a biosfera criada ali. Como os animais pré-históricos vão reagir à fauna e flora atual. E o protagonista resume tudo muito bem ao filosofar sobre o espaço dos humanos e dos dinossauros no mesmo mundo.
Tudo isso vai somando e desenvolvendo aos poucos. Com toda a estrutura de roteiro ligando os pontos cuidadosamente. O que leva à uma hora e vinte de duração, onde tudo converge no parque ficando sem energia e o tiranossauro separando o grupo do tour. É interessante poder falar tão bem da estrutura de um roteiro cujo incidente incitante ocorre tanto tempo depois do inicio.
Por um lado, temos os funcionários tentando restabelecer a energia para poder chamar ajuda. Por outro, o protagonista viaja junto de duas crianças pela mata aberta com os animais soltos.
A imagem do blu-ray é excelente. O fato de ser um filme todo filmado em película sem todos os recursos digitais atuais cria cenas impressionantes. A ambientação da ilha ganha um brilho todo especial com a fotografia maravilhosa e os enquadramentos que Spielberg constrói das montanhas ao fundo de sets abertos e imensos. Hoje em dia tudo isso seria montado com efeitos de computador e muito chroma key. O que normalmente fica perfeitinho, mas perde a beleza natural que temos neste filme.
Tirando o fato de que toda a parte de terror e aventura dura apenas os quarenta minutos finais e fica estranha depois da ótima discussão e desenvolvimento de ficção-científica, todo o filme é impecável. De longe um dos melhores do diretor e merece ainda ser visto porque não datou nem um pouco depois dos vinte anos de seu lançamento.
Assim que assistir tudo o que a caixa do blu-ray tem farei um review completo.
GERÔNIMOOOOOOO…
Um dos meus filmes favoritos, certamente. E depois de ler isso, até me deu vontade de rever, Vina.
Se eu soubesse o quanto eu ia gostar tinha revisto mais cedo.