Falar que o cinema brasileiro tem problemas é desnecessário. Um deles com certeza é o coitadismo. Na necessidade de se comparar com produções estrangeiras, os produtores nacionais correm atrás de tendências e estéticas hollywoodianas. O que gera tentativas como este Lino, que busca ser concorrência para animações em computação gráfica no estilo da Pixar e da Dreamworks.
Conta a interessante história de Lino (voz do Selton Mello), um homem com um emprego que detesta porque a fantasia tosca de gato que usa faz com que crianças o espanquem. Isso até ele se transformar em um felino gigante quando um feiticeiro pilantra erra uma magia que deveria trazer sorte para ele.
Tanto no início quanto no fim dos créditos finais, aparecem na tela títulos que agradecem o apoio de inúmeras pessoas que ajudaram Lino a ficar pronto e chegar aos cinemas. Dá para notar que o projeto é mais uma das produções brasileiras que são criadas em meio a perrengues de realizadores para juntar financiamento e recursos. O que não necessariamente influencia no resultado final. Há grandes filmes feitos praticamente sem dinheiro e péssimos com orçamentos inflados.
O problema é quando a falta de recursos se torna visível no resultado final. Especialmente quando se trata de uma animação em computação gráfica em um período em que o padrão de qualidade técnica do estilo beira o fotorrealismo.
Lino comete alguns dos maiores erros de animações de baixo valor técnico, desde esconder ao máximo líquidos (porque é visível que o estúdio de animação não tem conhecimento de como reproduzir o efeito de partículas), até criar sólidos que simulam pelos para animar cabelos.
Em certa cena, Lino e Don Leon (o feiticeiro que o transformou em gato) estão em uma floresta e o solo é uma textura com superfície que simula grama. Duas pedras minúsculas estão no chão (atentando para o absurdo de haver apenas duas pedras em uma floresta). No decorrer da sequência, o protagonista chuta os dois objetos, o que será importante para uma revelação na trama. Ou seja, criaram dois detalhes que poderiam enriquecer a ambientação se bem reproduzidos apenas porque eles seriam importantes para a cena. O que realça a falsidade do ambiente e remove o espectador da fantasia do filme.
Não ajuda ter partes dos cenários em inglês em certas partes e depois em português em outras, como se algumas cenas tivessem sido feitas em uma parte do processo em que o desenho era dirigido para os Estados Unidos, e outras, para o Brasil.
Essa mesma incoerência na produção pode ser sentida no roteiro, que segue atalhos narrativos preguiçosos, como explicar a vida de azar de Lino com um voice-over que mais faz o protagonista parecer uma pessoa egoísta que alguém com quem o espectador pode se identificar. Não ajuda também mostrar a vida sem sorte dele com momentos como a cena em que um brinquedo cai no chão e forma a palavra “azar”. Simples assim, sem que nada de ruim aconteça de verdade com ele.
Um dos grandes acertos do marketing do filme é focar na participação dos atores globais Selton Mello, Dira Paes e Paolla Oliveira. Não que eles sejam os únicos bons dubladores da produção. Na verdade, a dublagem como um todo é excelente. Mas ainda é incômodo ver a escalação de Oliveira como uma personagem que os enquadramentos fazem questão de ressaltar com uma mulher de corpo bonito. A primeira aparição dela é com um close-up vergonhoso em seus seios.
Apontar defeitos técnicos em Lino é uma tarefa que pode tomar horas do dia de uma pessoa. Além do roteiro e da animação, note as gambiarras usadas na mixagem de som. Chega a ser bizarro em um filme que tem uma dublagem tão bem feita. O Brasil merece ter um padrão de produção competitivo com o resto do mundo, mas talvez seja melhor alcançar a qualidade técnica dos colegas estrangeiros antes de se aventurar em filmes como este.