Próximo da virada do milênio, um ator australiano desconhecido começou a tentar a sorte no mercado estadunidense. Num golpe de sorte, dado pelo Tom Cruise em Dougray Scott nos sets de Missão: Impossível II e desbancou o primeiro selecionado para o papel, Hugh Jackman assumiu o famoso personagem Wolverine nos cinemas. Apenas 17 anos depois, uma carreira de muito sucesso e reconhecimento, e oito filmes como o herói mutante, Jackman ganhou autorização para fazer a versão dele do carcaju.
Para isso, ele chamou o amigo e diretor James Mangold (que também dirigiu Wolverine: Imortal), e pegou como base a série de gibis Velho Logan para contar a história do Wolverine anos depois dos filmes da franquia quando os X-Men morreram e ele é obrigado a cuidar de um professor Xavier (Patrick Stewart) com uma doença degenerativa em um mundo em que mutantes pararam de nascer. Velho e com problemas físicos devido ao contato constante com o metal indestrutível adamantium nos ossos, ele descobre a garota Laura (Dafne Keen), que tem os mesmos poderes que ele.
Logan tem várias missões a serem cumpridas: ser um adeus adequado do ator ao personagem, um grande filme de ação de super-heróis e, como foi adotado pela comunidade de fãs de quadrinhos, a versão definitiva do Wolverine nos cinemas. Com direito a palavrões, violência visual e toda a grosseria habitual do herói.
O que requer uma coisa muito importante: um roteiro que aprofunde em quem é o Wolverine. E a trinca de roteiristas composta pelo diretor James Mangold, Michael Green e Scott Frank cria um contexto no qual o personagem está no ápice do ceticismo e, sem esperança, encontra um possível bom motivo para reencontrar sentido na vida. Neste caso em específico, a razão é Laura.
Com isso, se aprofundam em todas as facetas do personagem. Fazem algo como um faroeste, no qual um homem bruto em uma realidade brutal revela um vestígio de humanidade quando descobre algum tipo de esperança deste mundinho sujo e cruel. É maravilhoso, mas não é nada novo para o Wolverine. Esse ciclo de conflito se repete desde o primeiro X-Men, em 2000. Apesar de ser possível ver todos os níveis de tristeza e luminosidade nesta representação dele, não há um desenvolvimento de personagem. Ele apenas é um espetáculo do que ele sempre teve de melhor.
Mangold é um extraordinário diretor “de aluguel” de Hollywood. Sem intenção de reinventar a roda, ele dirige com eficiência e faz ótimas cenas de ação. Quando Wolverine confronta os perseguidores de Laura, os planos são abertos e estáticos. O que permite compreender o que ocorre em cena. Ao mesmo tempo, ele dá closes em pequenos golpes movimentos especiais, que dão dramaticidade. Em certa luta, o herói avança contra uma dezena de inimigos. Entre cortes rápidos nos corpos de três ou quatro, ele atravessa a cabeça de um com as garras. Este golpe em especial ganha mais tempo em um take mais próximo.
Por outro lado, Mangold sabe que se trata de uma produção intimista e faz planos longos, com os personagens em condições dramáticas. É quase como uma contemplação das dores de pessoas que viveram coisas ruins demais no passado. Exatamente como os melhores filmes de faroestes fazem. Inclusive com imagens sujas, em que os atores refletem o visual do cenário demarcado pelos anos.
Já na primeira aparição como o personagem, Jackman já havia dominado o que era o Wolverine. Aqui ele tem o direito a fazer o show que sempre mereceu. As dores da alma causadas por culpa aparecem no corpo e na interpretação dele. Patrick Stewart volta como um professor Xavier extraordinário. A mente mais poderosa do mundo tomada por uma doença degenerativa em condições tão decrépitas que causam ainda mais impacto quando ele revela a esperança do personagem. O olhar de bondade e carinho dele é de partir o coração.
Logan é o filme que os fãs sempre quiseram do personagem. Ele é impaciente, grosseiro, cheio de respostas rápidas que fazem rir e violento pra cacete. Também é um excelente filme de ação com as referências certas a faroestes. Além de revelar os diversos traços de Wolverine. Não faz nada de novo ou especial e, por isso, não soa como algo memorável após o término da sessão.
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