Com a entrega dos Oscars, a temporada de premiações chega ao fim. Junto com ela, os filmes que passaram batidos são lançados quase esquecidos. Alguns merecedores, outros injustiçados. Nessa esteira, este Luta por Justiça estreia sem chamar muita atenção. E como vários filmes feitos para tentar ganhar prêmios, ele segue o padrão de reconstituição de eventos reais.
Aqui, o advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) começa uma iniciativa pública de defesa para prisioneiros no corredor da morte no Alabama em 1989, quando a maioria dos presos eram negros. Um dos primeiros clientes é Walter McMilliam (Jamie Foxx), que foi claramente incriminado por um xerife racista por um assassinato de uma garota branca. O defensor enfrenta por anos um sistema injusto de um dos estados com maior herança preconceituosa contra negros dos Estados Unidos.
Não há muito espaço para inventividade em um filme do estilo, e o diretor e corroteirista Destin Daniel Cretton sabe disso. Então ele faz o be-a-ba do gênero. Coloca entre as cenas de desenvolvimento do suspense de tribunal o drama real e pesado das pessoas que viveram aquelas atrocidades. Isso tudo embasado pelo apoio do verdadeiro Stevenson, que consultou a escrita do roteiro e cujo livro serviu de base.
Ele faz com que as cenas destaquem os excelentes atores principais, que precisam trafegar entre o melodrama aberto (e necessário) para as situações comuns de vidas rotineiras. E é um acerto com pessoas como Jordan e Foxx nos papéis dos protagonistas. O intérprete do advogado revela em sutis expressões o quanto está indignado quando ele mesmo sofre de racismo, mas sustenta o profissionalismo para enfrentar um sistema inteiro.
Já Foxx abraça o sentimento de sobrevivência de um homem em situação limite. Claramente injustiçado, McMilliam busca o tempo inteiro calma e concentração para lidar com o desespero que o acompanha em todo momento. Seja a desesperança no primeiro encontro com o novo advogado, seja quando tenta ajudar um colega prestes a ser executado a não perder a calma.
Com isso, o filme acerta em cheio em dois objetivos: fazer com que o espectador se emocione e com que ele sinta ódio contra tanta injustiça. E ainda é feito com uma direção sutil. Com truques antigos, faz com que os personagens que estão corretos tenha iluminação por trás, como se fossem quase divinos. Ou faz com que eles fiquem enquadrados dentro dos planos, para representar o fato de que eles estão enclausurados.
O maior problema fica por conta da montagem. Além de raros momentos em que é possível notar mudanças de posição de personagens entre cortes, o filme se estende mais do que precisa em várias cenas em que Cretton não se importa em construir os momentos. Há a cena em que Stevenson recebe uma ligação para ir a um lugar, então ele pega o carro e vai até lá. Poderia muito bem ter começado com a chegada ao local, sem ligação e tomada de tempo desnecessária.
Em casos como o deste Luta por Justiça, não há muito a ser inventado. A estética para o tipo de filme vai ser padronizada. A diferença está na potência da história e nas interpretações. E felizmente, são as duas coisas mais fortes e que se completam. É muito difícil não sofrer junto com Stevenson e McMilliam a cada golpe injusto e cretino que sofrem. O drama só perde, momentaneamente, quando o filme pausa a história para panfletar contra a pena de morte. Apesar de construir fortes argumentos contra, pequenos diálogos voltados para isso distraem dos personagens, que são o que mais importa aqui.