M-8- Quando a Morte Socorre a Vida é o mais novo longa de Jefferson De, diretor do premiado Bróder, e conta com Juan Paiva, Mariana Nunes, Giulia Gayoso e Rocco Pitanga no elenco, além de participações de Zezé Mota, Lázaro Ramos e Aílton Graça.
Maurício (Juan Paiva) é um jovem no primeiro semestre do curso de medicina de uma universidade pública do Rio de Janeiro. Ingressante pelo sistema de cotas, Maurício é o único aluno negro do semestre. Em sua aula de anatomia, ele percebe que os corpos ali expostos para análise são corpos negros como o seu, e esse fato não parece alarmar mais ninguém. Em seu desconforto, Maurício cria uma conexão espiritual com o corpo M-8, onde se vê refletido e representado.
Jefferson De é um diretor conhecido por inserir pautas raciais e de denúncia social em seus filmes, e M-8 não é diferente. Inicialmente repleto em uma aura de suspense dramático, desde os minutos iniciais percebemos que a relação do protagonista com sua aula de anatomia e as descobertas que ela implica serão centrais para os conflitos que movem a narrativa.
Diálogos e violências
M-8 possui uma boa dinâmica entre seus atores, porém de forma geral, seus personagens (com exceção de Maurício) são pouco profundos e parecem agir apenas de forma a movimentar a trama. Os diálogos são o ponto fraco do filme, em especial no primeiro e segundo ato.
Nos momentos em que explora outras formas de interação, como a conexão espiritual que se estabelece entre Maurício e o jovem do cadáver M-8, através das idas ao terreiro do protagonista e sua mãe, a narrativa parece capaz de comunicar seus movimentos de uma forma muito mais concreta e sensível. A relação de Mauricio com sua mãe Cida também é um ponto forte nesse sentido, incluindo uma das cenas mais fortes do longa, em uma discussão entre os dois.
O maior trunfo do filme é demonstrar como o racismo estruturante na sociedade brasileira se individualiza e personifica. Maurício está deslocado de seu local aos olhos de dona fulana, mãe de fulana, de fulana, empregada da casa, e dos policiais que o abordam. Seu deslocamento é combatido por diversos tipos de violência, física e simbólica.
Essa violência reflete cada vez mais o abismo entre Maurício e seus colegas de classe, e o aproxima de M-8, aquele corpo negro, aquele filho, aquele jovem também deslocado. Maurício vê nele o que poderia ser também a sua existência, e essa troca, perpassada pela conexão religiosa que os enlaça, transforma o longa em uma reflexão necessária e urgente no país.
Pautas urgentes de M-8
M-8 é um filme que dialoga diretamente com pautas que tem se tornado cada vez mais urgentes como o movimento Vidas Negras Importam, sendo capaz de discutir o racismo sistêmico e o individualizado, muitas vezes velado e disfarçado, de forma a promover debates necessários.
Seria um excelente filme para assistir em um festival ou mostra, e participar daquele debate pós sessão… Ainda não sendo possível, recomendo então juntar amigos, família, colegas de escola e promover sessões de um ótimo filme nacional seguidas de conversas online ou distanciadas, para aproveitar o melhor que a obra tem a oferecer.
M-8 – Quando a Morte Socorre a Vida
Prós
- Demonstrações de como o racismo funciona
- Pauta atual e importante
Contra
- Personagens sem profundidade
- Diálogos a partir do segundo ato