A produção anual obrigatória do Woody Allen chegou rápido aos cinemas. Blue Jasmine estava em cartaz a pouco tempo e agora este Magia ao Luar foca-se em uma trama muito mais leve e otimista. Talvez seja para dar uma variada de estilo, talvez seja apenas o diretor mais apaixonado. O fato é, um Woody Allen mais fraco ainda é um bom filme.
Stanley (Firth) é um famoso e brilhante ilusionista que não acredita em nenhuma forma de magia ou espiritualismo. Um amigo o convida para desmascarar uma médium que está, supostamente, tirando proveito de uma ingênua família rica. Porém, ao começar as investigações sobre Sophie (Stone), suas crenças pessoais serão colocadas a prova.
Allen sempre tem uma discussão bastante óbvia em seus filmes. Inclusive, não é raro colocar os protagonistas entoando as lições de moral de suas obras. Aqui, ele busca compreender o que resta de magia neste mundo. Ou pelo menos, se existe alguma.
Stanley é o típico personagem principal de Allen. Paranóico, narcisista, cínico e brilhante. Ele não consegue segurar a língua diante de pessoas crentes e dispostas a falar a favor de conceitos mais ingênuos e ilógicos. Quando é sugerido que ele quer acabar com todas as ilusões de todo mundo, ele responde com uma surpreendente humildade. “Muito pelo contrário, eu gostaria de encontrar uma prova de que um mundo metafísico existe.”
Stanley como seu alter ego ilusionista.
Por mais habilidoso que Stanley seja com ilusionismo e trucagens, os talentos de Sophie desafiam suas noções de universo. E rapidamente o questionamento que surge é se são os possíveis poderes dela que o deixam confuso ou se é algum tipo de encanto pessoal da moça. Quando ele começa a questionar a existência de deus e um propósito para a existência é quando ele se permite ser mais feliz. Mas a dúvida real é, a magia que o conquista é realmente metafísica ou existe um outro tipo de mágica nas relações humanas?
Allen representa a relação dos dois personagens com muita inspiração. Stanley usa roupas pretas e cinzas sempre, até que Sophie vai aos poucos quebrando sua convicção. Então ele vai ganhando detalhes de cores mais claras e coloridas enquanto vai se deixando levar por ela. Ela, por outro lado, sempre usa tons florais. A fotografia usa de tons de sépia e um leve desfoque nos enquadramentos para emular como as imagens de filmes antigos eram capturadas. Em uma cena em especial, o Sol é utilizado como fonte de luz e a câmera é movida ao redor dos atores sempre escondendo a luz do astro atrás de pequenos itens em cena. É um estilo de trabalho de câmera detalhista e incomum para o diretor.
A montagem é que sofre de alguns problemas. A partir do meio da produção, as sequências passam a parecer mais uma série de edições de videoclipes. Muitos momentos e diálogos estão claramente fora de lugar ou de contexto porque a montagem os mudou de posição. Talvez não aleatoriamente, mas de forma confusa. Ainda assim, não estraga o ritmo da produção.
Sessão mediúnica. Suspeita e investigação.
Colin Firth está muito bem como homem cínico, mas sempre que se deixa tomar pela paranóia e perturbação do personagem parece mais uma caricatura que uma interpretação. A Emma Stone está ótima em todos os mínimos detalhes da construção de Sophie. Ela faz pequenos movimentos de sobrancelhas e de boca em momentos rápidos que dizem muito sobre a personagem e contam a história.
Magia ao Luar é um título muito adequado ao filme. Após a produção, é válido repensar o título e o por quê dele. É o filme mais otimista e romântico de Allen que eu assisti até o momento. É preciso admitir que ele sabe o que está fazendo com uma comédia romântica legitimamente boa, engraçada e com trama amorosa envolvente.
FANTASTIC…