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Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo (2016)

José Loreto com o título do UFC

Na moda de produções nacionais biográficas, começa os investimentos com a nova modalidade de celebridade brasileira, os lutadores de MMA. O primeiro a ganhar as telas é José Aldo (José Loreto), ex-campeão mundial de peso pena. A dúvida é a mesma de sempre: é um filme ou uma colagem de partes da vida apreciada na história?

O foco do roteiro é a relação de Aldo com o pai (Jackson Antunes) e a luta. Em especial as razões para ele deixar Manaus e partir para o Rio de Janeiro e a busca pela carreira na qual viria a ter sucesso. Normalmente essa é a parte mais fraca de biografias, principalmente das nacionais, mas, surpreendentemente, é o trunfo de Mais Forte que o Mundo.

Escrito pelo diretor do filme, Affonso Poyart, o roteiro faz um balanço equilibrado dos conflitos de Aldo. Para descontar o ódio que tinha, usava o treino em artes marciais. Tudo com pouquíssimos diálogos expositivos. Em grande parte por conta da personalidade de Aldo. Turrão, ele mesmo não compreende a própria raiva, por isso não consegue explicá-la. E Poyart usa isso como recurso para apresentar a história através de ações, e não de palavras.

Cleo Pires treina
Cléo Pires como o interesse romântico de Aldo, Vivianne.

As falas respeitam as origens de pobreza do personagem real. Ele tem vocabulário limitado e até compreende que os sentimentos que carrega são complexos, mas também entende que não é capaz de expressá-los em palavras. Isso fica evidente tanto pelos diálogos bem escritos quanto pela ótima interpretação de José Loreto, que apresenta no olhar tudo isso além de entrar na forma física do personagem e se adequar ao sotaque e estilos manauaras.

Aldo testemunhou, enquanto crescia, o pai alcoólatra espancar a mãe. Por conta do alcoolismo, o progenitor era incapaz de manter empregos e tornou o ambiente familiar hostil. Não à toa, o lutador passou a cometer delitos pequenos, como roubar pizzas e machucar levemente desconhecidos na rua quando chegou à fase adulta. Mesmo assim, a figura paterna não é representada no filme como um monstro. Muito pelo contrário, o José pai é uma figura digna de pena que, como qualquer humano, carrega muitas camadas de complexidade no interior. No momento em que parece que vai acontecer uma retaliação contra ele, percebe-se que ele é tão vítima do próprio vício quanto a esposa. Surge então o diálogo em que entra toda a motivação para a trama: Seu José profere para Aldo que não importa para onde ele fuja, ele mesmo está sempre lá.

A raiva de Aldo tem essa complexidade. Não é apenas pela injustiça de ter nascido naquela vida ou pelo pai, mas pelo medo que sente de si mesmo. Quando está furioso, ele vê em si as origens paternas. Como não ser o problema que foi imposto sobre ele e a família? Tudo isso conduz para a compreensão da mensagem do filme: parte do protagonista é o pai, o que  não precisa ser negativo. Não é apenas emocionalmente poderoso, mas relevante. Não há maniqueísmo ou vilões. Poyart revela, mais uma vez, que compreende o que faz com que uma história seja boa, assim como fez antes em 2 Coelhos.

Jackson Antunes e José Loreto
Jackson Antunes como o pai de Aldo. Duas grandes performances.

O que causa complicações para o filme não é a história, mas como ela é contada. Se Poyart exibe talento como escritor, é carente na direção. A estética é semelhante à do americano Zack Snyder, de alto contrastes de cores em imagens com foco profundo, cortes de videoclipe, excesso de tomadas com alteração de velocidade, cortes de movimentos acelerados, planos detalhes de objetos importantes para o momento, closes de reações melodramáticas dos atores, músicas inusitadas que combinam com as situações (por incrível que pareça, a mistura de Ennio Morricone com Charlie Brown Jr. e Lorde é divertida). O resultado sente como um videoclipe de duas horas. O ritmo é ruim, algumas transições são constrangedoras e até as boas ideias de metáforas (representadas no filme como um inimigo imaginário de Aldo e um ringue no qual ele enfrenta todas as dores da vida) são mal montadas dentro do padrão do diretor.

O único talento de Poyart é como diretor de ação. Ele cria enquadramentos longos e abertos o suficiente para que seja possível compreender o que acontece na tela entre golpes rápidos e bem coreografados. O grande destaque fica pela cena em que, indignado com atitudes de clientes, Aldo luta contra um grupo em uma lanchonete. O diálogo divertido da sequência somado à luta e aos atores afinados geram risada e entretenimento.

O saldo, felizmente, é positivo para Mais Forte que o Mundo. Grandes histórias, mesmo que mal contadas, podem dar prazer a quem as lê ou assiste. Principalmente uma que não diminui os personagens a ser apenas maus ou bons. Poyart ainda precisa evoluir muito como diretor, mas sabe escrever boas tramas. Ele mesmo diminui o grande filme que poderia ter feito, mas ainda fez uma boa e emocionante produção.

 

GERÔNIMOOOOOOOOO…

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