A história é conhecida. O Talibã proibiu as crianças do sexo feminino de receber educação no Paquistão. Para manter o poder sobre a população, pessoas que falavam contra o regime eram mortas. A garota Malala Yousafzai e o pai Ziauddin Yousafzai fizeram discursos para a imprensa internacional contra os governantes. Por conta disso, ela levou um tiro no lado esquerdo do rosto. Mas a menina sobreviveu, saiu do país com a família e se tornou uma das maiores vozes internacionais a favor da tolerância e igualdade. O que poucos conhecem é a garota comum por trás dos discursos e as relações familiares escondidas pela fama.
O nome original do documentário (em tradução seria algo como Ele me Nomeou Malala) que acompanha a família de Malala após a recuperação na Inglaterra revela o foco do filme. A origem do nome da garota e as intenções do pai para ela. Ziauddin se inspirou na figura histórica do país chamada Malalai, que inspirou os exércitos paquistaneses contra inimigos ingleses durante uma guerra. O que os eventos na vida dessa personalidade tão influente no mundo cria nas relações dessas pessoas.
Não é à toa que o progenitor de Malala é a figura com as cenas mais fortes e belas do filme. Imagine um homem que inspira a filha a vida inteira para ser a voz da razão e da igualdade e ela é alvejada na cabeça justamente por isso. A culpa que ele sente enquanto ela está em coma é assustadora. Mais tarde, quando a vê em entrevistas e ao redor do mundo com discursos de paz e perdão, o orgulho dele é sentido através da tela. Focar na relação dos dois e falar sobre a família é o grande acerto da produção.
Figura Malala. A garota além da imagem pública.
O documentário cria duas linhas de narrativa, as duas com linguagens visuais diferentes. Uma acompanha a vida de Malala com a família após o atentado contra a vida dela na Inglaterra, a outra acompanha a situação no Paquistão até o momento dos atentados. Na primeira, a câmera acompanha a vida pessoal dela. Quando mostra as partes mais políticas, as imagens são de telejornais que explicam os discursos e entrevistas rapidamente. A parte do passado no Paquistão é feita com uma animação belíssima. O passado é nostálgico porque eles não podem voltar para o país natal, o presente deles é em casa e a parte política é vista pelo resto do mundo pela TV.
No lar, Malala brinca e briga com os irmãos. O mais novo diz que ela até bate nele. Em grupo, a família joga baralho, queda de braço, come unida. São pessoas normais. As maiores diferenças é que se encontram em uma cultura diferente. Na escola do Paquistão, a garota era a melhor aluna. Na Inglaterra ela tem mais dificuldades. Não identificar amigos entre os colegas porque é famosa. Não compreende como as garotas da mesma idade já passaram por mais de um namoro e tem vergonha de admitir que gostaria de um relacionamento e que acha alguns homens famosos bonitos. Essa intimidade revela uma face diferente da personalidade Malala, que todos conhecem e vêm pela TV e na internet. Ao mesmo tempo, ver as relações explica de onde ela tira coragem para fazer o que faz.
Vida em família. Malala convive com o irmão igual a jovens comuns.
Trata-se de um dos documentários com melhores ritmos por aí. Uma estrutura narrativa boa, com grande domínio de linguagem e uma abordagem com uma história fechada. Ele não se perde com entrevistas sem sentido e se revela uma obra bela sobre uma garota tímida e comum por traz da fama que as ações espetaculares dela criaram.
FANTASTIC…
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