Crítica por Karina Berardo.
Com viés adolescente, Sofia Coppola apresentou ao público, em 2006, a última rainha da França, com o filme “Marie Antoinette”. A diretora, filha de Francis Ford Coppola (da trilogia O poderoso chefão), começou a carreira como atriz, ainda criança. A primeira atuação de destaque, pela qual recebeu duras críticas, foi em 1990, em O Poderoso Chefão 3, dirigido pelo pai. O mesmo aconteceu em 1999, quando atuou no filme Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma, de George Lucas.
Acabou por desistir da carreira de atriz, e tempos depois, tornou-se diretora consagrada. Em 2003, recebeu quatro indicações ao Oscar pelo filme Encontros e Desencontros. Com Maria Antonieta, levou o prêmio de melhor figurino; porém, o filme foi vaiado em Cannes, pois para a crítica local a Revolução Francesa teria sido retratada de maneira superficial. As vaias não foram justas, porque trata-se da história da vida da personagem, romanceada para o cinema, sob uma perspectiva muito particular da protagonista. Há indícios no longa que evidenciam ser essa a escolha da diretora: desde a trilha sonora contemporânea até o estilo das letras utilizadas nos créditos do filme. A rápida (porém marcante) aparição de um par de tênis modelo all-star entre os sapatos de Maria Antonieta causa uma quebra nos padrões de filmes de época que tratam de momentos marcantes da história.
Sofia Coppola traz à tona discussões atemporais e dilemas éticos inerentes à condição humana. Discute o que é ser mulher e o seu papel na sociedade, a exigência de ter filhos, ou melhor, sucessores; e a hipocrisia nas relações de poder. A diretora faz isso de maneira sutil, com nuances estéticas como a utilização da câmera em movimento que em algumas cenas, evidenciam os muitos vidros dos castelos, que podem ser percebidos como representações da fragilidade do ser humano. Os muitos laços e fitas nos figurinos das mulheres reforçam não apenas o feminino, mas também a ideia de algo que amarra, prende e sufoca.
Dizem que o tempo se encarrega de fazer justiça. Teria sido essa a intenção da diretora e roteirista, Sofia Coppola, ao mostrar um outro lado do comportamento de Maria Antonieta? Será que ela agia de maneira compatível aos modos de uma jovem de 14 anos, com a imposta responsabilidade de salvar uma, aliás, duas nações? Apesar do fim trágico e do momento extremamente delicado que ocorria na França, o filme “Marie Antoinette” tem uma estética coerente e inusitada, além de ser bem humorado. Talvez, com esses elementos, consiga, de certa forma, aproximar a personagem do público, especialmente, o jovem.
A “Austríaca”
A vida de Maria Antonieta foi retratada em diversos livros, filmes, fotos, pinturas e documentários. Sua história pessoal se mistura com a da França e, por que não dizer, com a da Europa do século XVIII. Mas o que esperar de uma menina que, aos 14 anos, foi entregue ao rei francês como moeda de troca para garantia da permanência do poder daqueles que ali já estavam? Maria Antonieta era a caçula de 14 irmãos, filhos da poderosa Rainha Maria Tereza da Áustria. Teve uma infância alegre, muito rica e repleta de privilégios, até que embarcou rumo à França para se casar com o herdeiro do trono, Luis XVI de Bourbon, de 15 anos.
A chegada da “Austríaca”, como passou a ser chamada, foi festejada pelos franceses, muito mais pela novidade do que pela figura da futura rainha, pois pouco se sabia sobre ela. Da mesma maneira, Antonieta quase nada conheceu sobre a realidade do povo francês. Segundo relatos, a rainha nunca saiu dos arredores do Palácio de Versalhes, e parece que a famosa frase “se o povo não tem pão, que coma brioches” sequer foi dita por ela. A breve vida, já que foi morta com pouco menos de 40 anos, foi marcada por ostentação, intrigas, distanciamento da realidade e mistura entre a vida pública e privada da realeza, como era a regra da época.
Na noite de núpcias, no nascimento dos filhos e em outras ocasiões, a corte estava sempre presente, até mesmo dentro dos aposentos dos futuros reis. A demora para o nascimento dos herdeiros era assunto de Estado, tanto que a mãe de Maria Antonieta enviou um filho para a França para ajudar na resolução do problema. A nobreza e o povo já faziam especulações acerca da possível infertilidade da futura rainha, o que servia ainda mais para aumentar o descontentamento contra ela. Porém, o principal motivo para fomentar a raiva contra a realeza personificada na figura de Maria Antonieta, sem dúvida, era a quantidade de privilégios dos quais desfrutavam, enquanto o povo arcava miseravelmente com tributos que sustentavam as regalias.
As extravagâncias, os enormes gastos e a indiferença da rainha (ou, quem sabe, desconhecimento da realidade) com relação à vida da população francesa custaram-lhe, literalmente, a cabeça. Dentre as inúmeras mordomias, chamava atenção a quantidade de festas, vestidos, joias e até os penteados. Aliás, Maria Antonieta também ficou conhecida na história por ter revolucionado a moda da época, fato que foi retratado com riqueza de detalhes no filme.
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