Uma caríssima amiga minha me chamou para uma reunião de um grupo de amigos dela que gosta de cinema e se junta constantemente para assistir filmes e discutí-los. A preferência do grupo são filmes gore, trash, obscuros, e qualquer outra dessas características que vocês quiserem acrescentar. Fui no dia em que assistiram um filme francês chamado Mártires, de 2008.
Filmes franceses de terror são bastante comuns recentemente. E são de grande qualidade em sua maioria. Não se rendem a finais esperançosos e explicações desnecessárias. Usam do terror para levantar questionamentos pessoais, existenciais e políticos. Sem contar que são genuinamente pertubadores.
Assisti Mártires com essa espectativa. E pela primeira metade da duração o filme não me decepcionou. Sangue, violência, mutilações, fantasma, sustos. Tudo isso envolto por cenas muito bem montadas e conduzidas. Quando o filme chegou na metade, e já havia até um final aceitável, tudo mudou. Não que os itens acima descritos tenham sumido. Todos os aspectos continuam lá e as mutilações ainda aumentam. Mas a trama muda o foco de uma forma um tanto quanto bizarra.
De repente deixa de ser um filme de terror tenso e passa a ser um filme com questionamentos filosóficos mais voltado para a ficção científica. A violência e as mutilações não pertubam mais e o ritmo fica pacífico. Tudo a favor da trama, é claro. Mas o filme faz essa transição de forma tão natural que quase não se nota a mudança. E como os elementos para a segunda parte são explicados através da primeira, fica claro a necessidade dessa quebra.
A príncipio, achei que Mártires entrava naquela proposta levantada por Antonioni em Profissão Repórter. O final fica em aberto e propõe reflexões dos espectadores. Mas de repente lembrei de uma cena em que uma personagem fala que não existe espaço para interpretações. E percebi que o filme era aquilo. Sem espaço para interpretações.
Pelo menos não sobre o que e como aconteceu no filme. O final é aquele e ponto. Cinema é subjetivo e todo filme, até o mais superficial, abre espaço para reflexões. Mas nem sempre sobre a trama. Mártires termina deixando tudo bem explicado e redondo. Por mais que pareça em aberto.
Não assista esperando um filme de terror. Ao final é um filme que flerta com a ficção científica, extremamente filosófico, muito bem filmado e montado. A direção de arte é um primor e não vai deixar os fascinados pelo grotesco insatisfeitos. Na metade final, derrapa aqui e ali com alguns exageros, mas mantém a qualidade de se manter interessante com suas reviravoltas bizarras. Recomendadíssimo.
Pontos extras pela referência ao Dario Argento durante os créditos e em alguns momentos na fotografia. Além das reações divertidíssimas durante o filme. Com direito a um engraçadíssimo “Nego tem umas ideia ruim, véi.”
GERÔNIMOOOOO…