Depois de resgatados do labirinto por uma empresa liderada pelo misterioso Janson (Aidan Gillen), o grupo de Thomas (Dylan O’Brien) acha que está salvo da organização CRUEL. Nas novas instalações, Teresa (Kaya Scodelario) é separada dos garotos e Thomas passa a suspeitar. Descobre, então, que eles ainda estão presos pela CRUEL e foge com os amigos pelo que restou do mundo, um grande deserto com cidades em ruínas e monstros desconhecidos.
Segundo capítulo da série de livros infantojuvenis, Prova de Fogo funciona como o segundo ato de uma trilogia. No primeiro, o suspense e o mistério se sustentavam através do labirinto de horrores no qual Thomas e companhia se encontravam presos. Agora a trama começa a ser explicada. Enquanto enfrentam o deserto e os novos monstros, a turma passa a encontrar pistas aqui e ali do que aconteceu com o mundo, o que é a CRUEL e porque foram presos no labirinto.
A trilogia Mazer Runner tem um problema sério de falta de lógica e coerência. O estilo usado para a narrativa é muito similar ao da série de TV Lost. Existem mistérios para todos os lados e de todas as formas. As explicações vêm aos poucos através de pistas levemente sugeridas aqui e ali. O espectador acompanha junto com o protagonista Thomas enquanto ele tenta entender o mundo ao redor. No primeiro filme, Correr ou Morrer, funciona bem até o clímax, que não apresenta recompensa alguma para quem assiste. Este defeito do primeiro piora significativamente nesta continuação.
Com a noção de que são três livros para fechar a história e que o primeiro filme simplesmente não dá resposta, este segundo deixa a impressão constante de enrolação. O começo, quando o grupo está nas instalações suspeitas, é tão óbvio que o local é do mal que chega a ser incômodo o quanto os personagens não percebem isso. Essa mesma inocência se reflete em pequenos detalhes, como termos inventados para descrever coisas. Palavras como trolhos, plong, caçarola e fulgor parecem escolhidas por uma criança de oito anos.
Brenda. Começa o triângulo amoroso da franquia.
Para piorar, agora que a trama começa a se esclarecer, ela simplesmente não faz sentido. Não há razão para o labirinto existir ou ser como ele é. Além de Thomas e Teresa, ninguém dos personagens principais parece ter alguma personalidade. Não é possível sequer se importar com nenhum deles. Como se eles não fossem dispensáveis, Prova de Fogo acrescenta ainda mais. Muitos deles aparecem de maneira aleatória, também não têm personalidade e chegam até o extremo negativo de criar um triângulo amoroso.
O pior momento do filme é quando Thomas para um momento para conversar com Teresa e ela diz que lembra de tudo. De forma bastante simples. Ela sabe todas as respostas para todos os mistérios. Então, Thomas não questiona nada. Até o final do filme ele não parece lembrar que do lado dele tem alguém que tem resposta para todas as perguntas que ele se faz constantemente. É irritante como o roteiro parece desmerecer o espectador.
Em meio ao clímax, uma grande cena de tiroteio, surgem alguns questionamentos sobre moral interessantes. Na verdade, muito semelhantes aos de The Last of Us. Os fins justificam os meios? É válido sacrificar adolescentes e crianças em nome de um bem maior? Mas assim como essas questões dão as caras rapidamente, são ofuscadas pela necessidade da narrativa de ser um grande mistério. Então o filme termina com um gancho assustador, com mensagens sobre vingança e assassinato.
O protagonista Thomas faz um discurso perturbador no final.
Este é o segundo filme do diretor Wes Ball. O primeiro foi o Maze Runner original. Ele sabe criar uma ambientação pesada e sombria. No anterior, criou cenas de ação e suspense muito boas e tensas. Agora todas elas se resumem a corridas e fugas. Nunca se tem a impressão de que os personagens correm algum perigo. Parece que o mérito destes momentos no outro filme era mais do roteiro que do diretor. Em meio a tanta correria sem graça e a um roteiro que nunca empolga ou envolve, o filme fica chato.
Dentre os atores, o protagonista Dylan O’Brien segura bem o filme como condutor da história. A Kaya Scodelario parece que praticou um pouco como expressar com o rosto durante as filmagens do primeiro e deste segundo filme. Ela chega a convencer que tem emoções em algumas cenas. O destaque fica para uma garota chamada Rosa Salazar, que vira a terceira ponta de um triângulo amoroso mal construído entre os três, mas rouba todas as cenas das quais faz parte.
Aidan Gillen vai chamar a atenção das pessoas por ser um participante de Game of Thrones, mas não tem neste filme metade da presença que o personagem Mindinho, da série, possui. Giancarlo Esposito tem um personagem bobo e entrega uma interpretação preguiçosa. Barry Pepper também tem uma ponta sem personalidade e faz rir sem querer com o momento em que grita “merda” em determinado perigo. A Lily Taylor também aparece para ser uma espécie de matriarca do bem, mas não tem tempo suficiente para criar empatia.
Prova de Fogo é isso. Um segundo ato longo e repleto de momentos desnecessários que nunca divertem. Existe um fundo de questionamento sobre moral que fica apagado diante da necessidade de criar mistérios. O final que enaltece a vingança e a justiça com as próprias mãos deixa tudo com um gostinho ainda mais amargo quando os créditos começam a rolar.
GERÔNIMOOOOOOOO…