Segundo o Museu da Flórida, cinco pessoas morreram em decorrência de ataques de tubarão em 2017 em todo o mundo. É mais provável morrer envenenado acidentalmente ou de gripe do que por um desses peixes. No entanto, eles povoam a imaginação popular ao ponto de já terem mais pessoas mortas pelos animais em filmes do que já foi registrado pela humanidade.
A maior surpresa do novo filme dos bichos, Megatubarão, não é abordar uma versão ainda mais monstruosa das criaturas no antepassado extinto megalodonte. O que faz da produção sobre uma expedição científica que encontra o animal em novas profundezas do oceano irreverente é que ela panfleta a favor da proteção dos peixes carnívoros.
Com uma sinopse igual a essa, a proposta é previsível. Megatubarão é um filme bobo de monstro com muitas cenas de ação que dançam entre o absurdo e o divertido, com direito a várias mortes de humanos e piadinhas cretinas. E felizmente, essa adaptação do livro de Steve Alten pelos roteiristas Dean Georgaris, Jon Hoeber e Erich Hoeber não quer ser mais que isso.
A maior profundidade na história se encontra em pequenas mensagens rápidas de personagens que são contra a caça e a morte de tubarões pelos humanos. Há a cena em que encontram um barco destruído com restos de barbatanas para que um dos cientistas explique: “Caçadores de tubarão, eles arrancam as nadadeiras e barbatanas e soltam os peixes de volta na água para morrer.”
Antes que a alfinetada incomode de verdade, outro personagem brinca: “Parece que eles receberam a desforra”, enquanto remove um braço humano da água. Nada é sério demais para não receber alguma piada, assim como a lembrança é importante de que tubarões são animais calmos e que raramente oferecem perigo real para pessoas.
O tom de brincadeira vale até para quando vários personagens caem na água com o monstro nas proximidades. Mesmo que a situação deles seja melodramática, com direito a mortes de parentes e amigos íntimos, a condição de filme trash não aceita que o filme se leve a sério por mais que o necessário.
No entanto, os roteiristas fazem com que os protagonistas tenham que resolver problemas o tempo inteiro, o que garante um ritmo divertido do começo ao fim. Seja com a necessidade de colocar um radar no peixe gigante (o que rende a piada mais engraçada do filme), seja com a urgência de desviar a atenção dele de uma praia lotada (na cena obrigatória de mortes engraçadas e trash).
E Jon Turteltalb, um diretor de carreira extraordinariamente eclética, sabe fazer bom uso do orçamento milionário para os efeitos digitais. As cenas subaquáticas em computação gráfica são repletas de detalhes que aumentam a verossimilhança. Desde distorções na câmera em altas profundidades, até pequenos peixes parasitas que vivem nas costas do megalodonte.
Ele conduz as cenas de ação de forma esperta, ao esconder o tubarão em planos subjetivos, o que faz com que o espectador não o veja junto com os personagens. Mas abre os ângulos quando as perseguições começam, para que seja possível compreender tudo o que ocorre com todos os personagens em todos os momentos.
Além disso, ele tem noção de que os personagens e os dramas são o que menos importa. Então faz com que as cenas dramáticas sejam rápidas com atores que não são necessariamente bons, mas simpáticos os suficiente para que a plateia se importe com eles.
Vide a dupla principal, Jason Statham e Li Bingbing. Os dois ganham momentos de flertes bregas propositalmente para que não roubem a atenção do que realmente importa, os confrontos com o megalodonte. Num dos melhores momentos, ele ganha direito a um “female gaze” hilário, que parece fazer piada de situações semelhantes com sexualização de mulheres.
Talvez a melhor descrição seja a clássica para filmes do gênero: bobo e divertido. No entanto, diversão de qualidade, bem feita e que não se leva a sério. Esperar mais é perda de tempo. Vale ainda pela perspectiva de que tubarões são animais a serem respeitados e deixados em paz na natureza.