Um dos melhores exportadores de cinema atualmente é a Coreia do Sul, com filme que misturam temas sombrios e de escala grandiosa com contextos mais pessoais em meio a um humor leve. Seja na famosa trilogia da vingança, em tramas de padres vampiros ou em uma investigação de um serial killer em uma cidade do interior.
É o que acontece com os detetives Park Doo-Man (Kang-Ho Song) e Seo Tae-Yoon (Sang-Hyung Kim), quando assumem a investigação da morte de duas mulheres que apareceram mortas e estupradas. Os dois seguem métodos diferentes para tentar encontrar o culpado e entram em conflito, que aumenta de intensidade à medida em que os crimes os frustram mais e mais.
O padrão do cinema coreano atual é de um pessimismo muito forte. Em especial do diretor deste filme, Joon-Ho Bong, que dirigiu os excelentes O Hospedeiro e O Expresso do Amanhã. A intenção aqui não é fazer um filme sobre as investigações, mas sobre os investigadores. O que o peso da responsabilidade pelos assassinatos de pessoas faz com eles e quais os limites que pessoas diferentes cruzam quando alcançam o desespero.
Escrito por Bong junto com o parceiro Sung-Bo Shim, o roteiro é bastante sucinto em relação aos crimes. A primeira cena é do detetive Park a caminho de encontrar o primeiro corpo e, daí em diante, é sobre ele e os colegas. Grande parte das cenas abandona as investigações e os segue nas vidas íntimas, que se misturam aos poucos com as buscas por pistas e suspeitos porque eles se tornam cada vez mais obcecados.
Para isso, eles fazem uma mistura muito interessante de momentos cômicos com dramáticos que é comum a filmes coreanos. Eles são retratados como pessoas muito expressivas, com direito a conversas que terminam com chutes entre conhecidos, gritos e movimentos bruscos. Bong sabe misturar esses exageros para criar humor, mas os coloca em meio a momentos importantes nos quais a trama segue adiante.
Em um momento fascinante, Park e Seo discutem sobre as formas de investigação no meio de uma boate de striptease. Em meio a mulheres seminuas, colegas que beijam strippers e bêbados, os dois passam do diálogo para gritos e uma tensão que sugere que vão começar a se estapear.
Ao mesmo tempo, essa cena também é um ótimo exemplo da condução de Bong. Ele faz com que praticamente todos os diálogos sejam feitos em um único plano, mas para contar a história através das falas ele muda os atores de primeiro plano com movimentos sutis. Os dois discutem e brigam enquanto o chefe está desmaiado no fundo. Quando chega a hora dele falar o que é importante para a cena, ele passa mal e vira o centro da cena.
O estilo e estética se repete durante toda a duração de Memórias de um Assassino. O que é muito importante para mostrar as jornadas emocionais de Park e Seo. Um é truculento e recorre aos instintos, o outro conta com pistas e métodos científicos claros. Os dois mudam de posição aos poucos à medida em que se desesperam mais e mais e começam a conviver. A troca de personalidade é a verdadeira riqueza dessa produção, pois permite ver uma mistura rica de tipos representados por dois ótimos atores.
Diga-se de passagem, todo o elenco é ótimo. Misturam os estilos excessivos e dramáticos com a sutileza da perturbação interna dos personagens. Em especial Kang-Ho Song, que já se provou um grande ator internacional na hora de fazer pessoas quebradas por dentro que já não se importam em ser maldosas com aqueles ao redor.
É um filme de cadência lenta com um estilo estranho que certamente se adequa ao gosto de todos. A cultura coreana é diferente da forma com a qual as pessoas se expressam e sentem no Brasil e no ocidente. Mas é uma forma rica de conhecer esse lado tão distante do planeta.
O filme é fraco. O fim decepcionante por deixar dúvidas se o policial sabia quem era o criminoso ou se não fazia ideia. O único ponto positivo é a trama que prende até o fim. O roteiro não tem coerência, as investigações do caso são péssimas. Espero mesmo que não tenham acontecido. Algumas digressões tornam o filme incoerente, sem sentido. Esses desvios no roteiro não servem sequer pra dar drama ou alívio cômico. Há alguma comédia, mas fraca que não acrescentam.
Considerei uma perda de tempo.