Tudo indica um filme de baixa qualidade para este O Menino que Queria Ser Rei. Lançamento perdido em janeiro, trama infantil sem muitos atrativos, poucos atores famosos. No entanto, a produção é de Joe Cornish, responsável por Ataque ao Prédio, uma das mais divertidas surpresas desta década que se esvai. Além de ser parceiro regular de gente como Edgar Wright. Será que ele é a pessoa certa para modernizar a lenda do Rei Arthur?
É o que ele tenta ao fazer com que Alex (Louis Ashbourne Serkis) encontre a espada Excalibur em um pilar de uma construção abandonada e se torne o novo “rei da Bretanha”. O problema é que ele é apenas um menino de 12 anos na escola cuja missão é impedir e matar a bruxa Morgana (Rebecca Ferguson) antes que ela volte para dominar a Inglaterra.
Cheirinho de sessão da tarde oitentista? Pode ter certeza de que é isso que Cornish quer. Uma aventura infanto-juvenil cheia de ação para encher a imaginação da criançada de fantasias e sonhos. Até o material de divulgação deixa claro ao usar frases de efeito como “As crianças dão uma lição”, o foco é divertir os menores. E não tem nada errado nisso.
O que é errado é fazer um filme com uma premissa tão ingênua e se levar a sério. Entre boas, e inventivas, ideias, Cornish faz uma cena em que Merlin (jovem interpretado por Angus Imrie e velho, por Patrick Stewart) anima árvores para que elas lutem e ensinem esgrima para Alex e os novos cavaleiros da távola redonda.
O momento divertido tem função dupla na história. Ao mesmo tempo em que faz com que as habilidades dos protagonistas evoluam, também dá o pretexto para o desenvolvimento das personalidades deles em uma discussão que segue. Outras situações como essa aproveitam bem os elementos de magia da lenda bretã, como a dama do lago.
Por outro lado, esse desenvolvimento das personalidades dos quatro cavaleiros principais requer um roteiro complicado e elaborado demais. Isso porque os atores adolescentes estão aquém da capacidade que os personagens requerem. Também porque a história fica muito séria, com inúmeros e lentos diálogos dramáticos em um filme que poderia ganhar muito com autoironia.
O elenco menor de idade eventualmente dá destaque para um único momento em que os veteranos Ferguson e Stewart contracenam. É como se dois atores shakespearianos fizessem um diálogo clássico no meio de uma peça infantil escolar.
Na verdade, as crianças e adolescentes do filme interpretam com tanta seriedade que chega a parecer que alguém capturou um monte de jovens que brincam enquanto inventam a aventura. Mas com uma penca de efeitos especiais de ponta e visuais icônicos para embelezar a tela.
Certamente, é uma das escolhas para os pais que querem levar os filhos para os cinemas nesse período de férias. Além de divertir, vai encher a imaginação deles com reflexões sobre hombridade, retidão e todos os outros ideais de cavalaria que fizeram com que o Rei Arthur se tornasse parte do imaginário da Inglaterra. No entanto, é apenas para as crianças mesmo.