O diretor de Apenas uma Vez ganha mais dinheiro, um elenco mais famoso, larga o interior da Irlanda e vai para Nova Iorque para fazer basicamente o mesmo filme. Bem, se for para ficar se repetindo, que seja uma repetição de um bom filme.
Dan (Ruffalo) foi um grande produtor musical na década de 1990, mas diversos problemas pessoais o levaram a perder o emprego e ser humilhado diante da filha adolescente que o odeia. Gretta (Knightley) é uma compositora inglesa que acompanha o namorado até Nova Iorque porque ele está fazendo sucesso. Ele a trai e ela fica sozinha na cidade. Dan ouve Gretta cantar uma vez por acaso e decide lançar a carreira dela na indústria musical.
A ideia é praticamente a mesma de um dos filmes anteriores de John Carney, Apenas uma Vez. Duas pessoas em algum estado de decadência descobrem uma na outra a oportunidade de realização musical. Essa realização vai fazê-los, ou superar os problemas que enfrentam, ou aceitá-los. A ideia é mostrar como a música pode ser significativa e capaz de alcançar um status maior que as pessoas que as criam.
Também roteirista do filme, Carney cria dramas pessoais originais. Dan aparenta ser um pai divorciado e alcoólatra que, por cretinice, perdeu tudo na vida. Mais tarde é explicado que coisas ruins aconteceram com ele e se somaram para destruir tudo o que ele tinha. Da mesma forma Gretta parece ter passado por um caso comum de separação, mas os sentimentos são muito mais complicados que raiva e tristeza puras. A música dela o inspira a ser um grande produtor novamente e o trabalho dele faz com que ela seja melhor. Tal qual no outro filme do diretor/roteirista, existe uma química entre o casal principal que levanta constantemente uma tensão sexual. Mas, mais importante que o relacionamento, o produto musical é maior que os sentimentos de ambos e suas vidas.
Dan e Gretta. Música maior que a vida.
Até na direção, Carney se repete. Coloca câmeras de mão para capturar todos os momentos. Mesmo diálogos parados e cenas internas. Algumas cenas nas ruas tem eventos inesperados ocorrendo no fundo. Depois que Dan e Gretta se despedem pela primeira vez e os dois atores saem de cena, um policial arrasta uma mulher pela rua. Parece que Carney pegou uma equipe pequena e saiu nas ruas com os atores sem avisar ninguém que o fariam. Daí coisas assim acontecem casualmente diante das câmeras.
Carney acerta em momentos menores, como quando revela como Dan percebe a música de Gretta pela primeira vez. No geral, porém, não é exatamente o diretor mais expressivo do mundo.
Mark Ruffalo está tresloucado como Dan. O personagem é excêntrico e o ator se esforça para representar essa característica, mas não combina muito. Keira Knightley é um caso a parte. Em certas cenas ela parece ótima, em outras ela parece exagerada. Nunca consegue dar conta de uma interpretação completamente eficiente. A Hailee Steinfeld é uma camaleão, está diferente de tudo o que já fez antes. Nada da inocência da garota de Bravura Indômita ou do militarismo de O Jogo do Exterminador. Aqui ela é maliciosa e rancorosa como a filha adolescente de Dan. O James Corden abusa da simpatia, mas fica apagado. O Mos Def quase não aparece como uma espécie de executivo desalmado. A Catherine Keener merecia mais bons papeis além da mãe separada que faz com frequência. E o Adam Levine (do Maroon 5) está muito bem como o ex de Gretta.
Uma bela homenagem aos artistas musicais e o valor de suas produções. Pena que, como filme, Mesmo se Nada Der Certo não apresenta nada de novo.
ALLONS-YYYYYYYY…