A franquia Homens de Preto é guardada com muito carinho para fãs em todo o mundo. Normalmente atrelada aos atores Tommy Lee Jones e Will Smith, estrelas dos originais, é possível pensar em como diversificar a história com um mundo inteiro de agentes de alfândega interplanetários. Assim, a ideia é dar nova cara ao partir para a filial de Londres da MIB para aumentar a vida da marca nos cinemas.
É assim que a agente novata M (Tessa Thompson) estrela a nova aventura enquanto aprende os trâmites dos Homens de Preto na primeira missão. A novaiorquina é mandada para a Inglaterra e, ambiciosa, encontra uma maneira de se juntar ao herói local, H (Chris Hemsworth) em um caso diplomático. Mas um assassinato misterioso os coloca atrás de um grupo alienígena que pretende dominar o universo.
A missão deste filme é simples, fazer uma comédia de ação com elementos de ficção-científica para divertir e renovar a série milionária. É preciso mudar os atores principais, a cidade da história, mas sem perder a narrativa divertida que deu o tom da franquia e encantou pessoas e ainda garante certo charme depois de tantos anos.
Assim, caiu nas mãos de F. Gary Gray, um eficiente diretor de ação, reinventar os Homens de Preto. E ele entrega o que faz de melhor. Cenas de ação e caos bem resolvidas e dirigidas. Uma perseguição com uma moto alienígena em Marraquexe se destaca pela qualidade técnica. Os efeitos especiais são impecáveis, mas Gray faz questão de fazer com que a câmera se movimente nos closes dos atores, o que aumenta a impressão de que eles estão realmente lá, e não em uma grua em algum estúdio. Recurso de câmera simples e eficiente.
Em termos técnicos, o filme não deixa a desejar. Mas falta personalidade. Se tem algo que funcionou muito bem nos originais, é a capacidade do diretor Barry Sonnenfeld de construir uma mistura entre o bizarro de alienígenas com um charme da uma universalidade de sentimentos e dores entre todas as espécies intergaláticas. Gray não parece preocupado em trabalhar nada do tipo, apenas em reconstituir ao máximo o estilo do antecessor para manter o padrão da série.
Assim, aqui e ali usa de lentes de ângulos grandes para distorcer imagens abertas, especialmente com coisas que se movimentam do cenário para o primeiro plano. Da mesma forma, na direção de arte não tem algo próprio. Todas as armas, figurinos, cenários e até maquiagens dos alienígenas parecem quase ser uma homenagem aos filmes anteriores.
Em acréscimo a isso, a dupla de roteiristas Matt Holloway e Art Marcum criam uma trama de espionagem preguiçosa, cujas reviravoltas podem ser vistas muito antes de ocorrerem. A grande reviravolta pode ser percebida assim que os personagens relacionados entram em cena. Com uma história insossa, sobra para os atores segurarem a diversão das cenas.
Mas Thompson e Hemsworth sequer parecem levar o roteiro a sério. Ele, solto para improvisar e fazer piada em cena, parece estar brincando o tempo inteiro. Ela, por outro lado, tenta entregar uma atuação convincente. O problema de M é o roteiro que a trata como uma garota empolgada e com medo em um momento, para trocar a personalidade dela quando ela precisa se enturmar com H, por exemplo, para que os dois se tornem uma dupla.
Tudo isso somado, faz com que as cenas de ação não tenham peso, uma vez que a história não parece apresentar perigos de verdade e os personagens não criam empatia. Não dá para sentir medo por eles, assim como o filme se desenrola morosamente para o fim, em que todos os conflitos pessoais deles não não são resolvidos ou aprofundados. Não se fala sobre os motivos para H ter mudado de personalidade, como todos os amigos dele repetem sem parar, nem sobre aprendizados ou questões de distanciamento de Molly. Eles apenas resolvem o problema galático e o filme acaba.
Infelizmente, Homens de Preto merece uma abordagem mais charmosa para o universo multicolorido e fantástico em que os personagens transitam. A nova abordagem nem parece interessada em fazer algo do tipo. Muito pelo contrário, Thompson e Hemsworth parecem fãs do primeiro filme que usam cosplay para fazer uma bela homenagem, mas vazia.