Quando se pensa em adaptações de livros infanto juvenis para o cinema, certamente não se pensa em um dos diretores de horror mais famosos pela sanguinolência na obra. Mas foi difícil não reconhecer que, talvez, Eli Roth era uma escolha interessante para fazer com que a série de aventuras do jovem Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro) ganhasse vida. A mistura pode gerar uma aventura infantil irreverente, assim como um tropeço.
Adaptado do livro homônimo de 1973 de John Bellairs, o filme acompanha Lewis justamente quando ele perde os pais em um acidente e é encaminhado para viver com o tio Jonathan (Jack Black). Eles vivem em uma casa sombria sempre na companhia da vizinha Florence Zimmerman (Cate Blanchett) até que o menino descobre que os dois são feiticeiros e que há um tique-taque constante nas paredes da residência.
Como se trata de uma franquia, é óbvio que existe uma intenção de iniciar uma franquia nos moldes de Harry Potter. E usar um livro da literatura clássica infantil dos Estados Unidos é um passo lógico depois que tanta gente tentou com outras coisas antes. E assim como outros do sub gênero, as aventuras de Lewis Barnavelt são recheadas de estética barroca e flerte com características do horror.
Justamente por isso a dupla de realizadores da vez, formada pelo roteirista de terror Eric Kripke e por Roth, é tão interessante para a adaptação. Eles não têm medo de colocar coisas bizarras e assustadoras para perseguir o menino e os protetores dele. Também têm o conhecimento do que tem potencial perturbador, como abóboras macabras, bonecos mecânicos e até um zumbi necromante.
Por outro lado, eles não têm conhecimento em lidar com temas infantis e, no caso de Roth, com efeitos digitais grandiosos. O texto infla a versão literária com mistério sobre quem é o tio Jonathan para dar o tom de terror desde o começo, antes que o menino aprenda sobre magia. Com isso, Kripke acrescenta aos dramas pessoais de Florence e do tio para discutir valores familiares e passar uma mensagem, como não ocorre no livro.
No entanto, Roth usa e abusa da computação para criar imagens que vão tocar no imaginário. Mas não consegue criar um equilíbrio entre os momentos com pessoas reais e os efeitos especiais. Não é incomum ter cenas como a que o tio Jonathan descobre que os bonecos da casa ganharam vida. Em um ângulo vê-se o Jack Black reagir com medo, enquanto em outro a câmera captura os brinquedos animados. Sem ambientação, não parece que as duas coisas ocorrem no mesmo local.
Assim, quase todas as cenas com muitos efeitos especiais, que são muitas, parecem ter a falta de algo. Um enquadramento que faz com que tudo ganhe alguma verossimilhança. O que é uma pena, porque o texto de Kripke funciona muito bem como uma aventura divertida, com um Lewis vulnerável e excluído que se apaixona pelo mundo de magia que descobre junto com o espectador.
Mas nem o texto, assim como as ótimas interpretações do trio de protagonistas salvam a cena em que Jonathan revela uma mágica com estrelas para o sobrinho. Com a falta de enquadramentos básicos, Roth não consegue capturar o encanto do que a situação representa para o menino. Talvez funcione muito bem para crianças, que tendem a se importar menos com esse tipo de construção.
Ainda tem um roteiro que cresce em cima do texto original e dá conteúdo para os adultos que acompanharem os filhos. Não chega a ser uma sessão ruim, mas a sensação de que algo está errado o tempo inteiro nunca para de incomodar. E ver a Cate Blanchett e o Jack Black interpretarem bem é sempre uma boa justificativa para assistir a um filme.
Nossa, já está nos cinemas? Eu não fazia ideia de que ia sair esse filme D:
Sim. Estreou hoje.
Eu acho que vou conferir só pra ver a deusa Cate Blanchett em ação… acho que se tivesse lido só a sinopse do filme me interessaria mais, mas confesso que fiquei meio pé atrás depois da sua crítica…