Existe um prazer único depois da sessão de Mulher Maravilha. Depois de mais de décadas de sucessos cinematográficos baseados em histórias em quadrinhos e, pelo menos, umas três tentativas, finalmente fizeram um bom filme de uma super-heroína. Nada mais justo que tenha dado certo justamente com a amazona grega.
Última filha a nascer na ilha escondida pelos deuses de Temiscira, Diana (Gal Gadot) é a amazona mais forte, mais rápida, mais bela e mais ágil. Quando o americano Steve Trevor (Chris Pine) cai no território secreto, em fuga de um exército durante a Primeira Guerra Mundial, ela compreende que deve ir para o mundo dos homens para ajudar na missão dele e derrotar Ares, o deus da guerra, que alimenta a fúria no coração da humanidade.
De todos os filmes de heróis lançados nos cinemas nos últimos anos, talvez Mulher Maravilha seja um dos mais importantes e arriscados de todos. Quarto capítulo da tentativa de construir um universo cinematográfico da DC, a produção tinha que ser a primeira boa da franquia, mas ainda além: tinha que ser o primeiro bom filme de heroína.
Primeira chance de fazer um bom filme da DC.
Para isso, foi chamado o roteirista de séries de TV Allan Heinberg. O passado televisivo pesa no filme, porque a maioria dos defeitos de Mulher Maravilha se encontram justamente no roteiro. Primeiro, pela necessidade de ser expositivo.
A produção abre com um discurso em voice-over da personagem e fecha com outro. Em ambos, ela explica o conflito principal do filme: por que uma guerreira grega mais forte que a humanidade deveria se importar com os humanos?
Para piorar, a exposição repete a resposta que a personagem encontra, mas que reduz a complexidade da humanidade a um conceito ingênuo. Por mais que ele seja verdadeiro, há mais por trás dos seres humanos.
Diana se prepara para a briga. Ingenuidade de roteiro que incomoda.
Também pesa o ritmo da produção. Com quase duas horas e meia de duração, há todo um trecho da história, depois que Diana e Trevor saem de Temiscira e chegam em Londres, que parece arrastado.
Mas são defeitos que não comprometem uma trama que sabe equilibrar entre o cômico e o trágico. Entre as muitas cenas de ação, Heinberg coloca momentos divertidos – especialmente no choque de Trevor com as amazonas, ou no de Diana com os costumes humanos. Ainda assim, não perde o foco da importância da missão dela quando encontra com os horrores de uma das piores guerras da história.
É onde entra uma das maiores sacadas de Mulher Maravilha: colocar um dos super-heróis do panteão da DC em um dos contextos mais horrorizantes da humanidade. Porque a amazona, assim como o colega Superman, é um símbolo de esperança vindo de cima. Maior que os humanos, ela é um ícone de fé. Algo a ser almejado pelas pessoas para tentarem ser melhores.
Amazonas gregas. Maiores que a vida.
A diretora escolhida para comandar é Patty Jenkins, do ótimo Monster, que representa esses conceitos da personagem pela fotografia. Filma com granulado realçado, que deixa a impressão de imagem antiga, o que combina com os conceitos de Grécia antiga e da Primeira Guerra Mundial.
Além disso, escolhe ambientes sombrios, repletos de névoa e cinzentos, quando revela o mundo humano. Enquanto o universo das amazonas em Temiscira é limpo, claro, reluzente e com cores mais fortes. Tanto é que Diana é sempre quem aparece em destaque nos ambientes humanos com vestidos azuis e vermelhos, que remetem ao uniforme da heroína. Essas escolhas reforçam a ideia de que ela é a luz que acende os corações humanos na escuridão.
Apesar de ser uma escolha inteligente por ser israelense (o que combina mais com uma personagem de origem grega) e saber falar inúmeras linguas, Gal Gadot é uma atriz com muitas limitações. Mas ela as usa para retratar as próprias incompreensões da personagem no mundo humano. Porém, quando ela precisa fazer discursos, é possível notar uma insegurança.
Chris Pine acompanha Gadot. Ator rouba a cena.
Por outro lado, o Chris Pine dá para Steve Trevor uma dignidade que o personagem requer para que ele seja o representante da humanidade quando ela é julgada por Diana. Ao mesmo tempo, ele é descontraído o suficiente para ser divertido em cena. Outro destaque é o inglês David Thewlis, que dá muitas camadas de profundidade ao líder do exército da Inglaterra, Sir Patrick.
O grande prazer de ver Mulher Maravilha é ter a noção de que existe um modelo adequado para meninas no mundo que também é um bom filme. Antes, elas eram obrigadas a assistir porcarias como Elektra e Mulher Gato. Mesmo que você não goste da personagem, pague por um ingresso para estimular mais produções com protagonistas mulheres.
4 comentários em “Mulherão da P%$#@ (Mulher Maravilha – 2017)”