Quando Shailene Woodley disse em entrevista que ela não era feminista porque amava os homens, deu até para entender o lado dela: atrizes hollywoodianas não passam pelas mesmas coisas que nós, meras mortais, passamos todos os dias por causa de nossa sociedade machista, certo?
Errado.
Quando Charlize Theron, Judy Greer, Anna Kendrick e Patricia Arquette revelaram ao mundo a desigualdade de direitos dentro dos estúdios mais famosos do mundo, a situação se mostrou completamente diferente daquilo que nós somos induzidos a pensar.
Não é novidade alguma que mulheres, em sua maioria, recebem menos do que homens para exercerem a mesma função. A novidade é que produtores e diretores, que fazem filmes para debater questões sociais – para divulgar histórias incríveis de pessoas que mudaram o mundo, que produzem a sétima arte para explorar, denunciar e debater a mentalidade da sociedade- ainda sejam hipócritas o suficiente para não trazerem o mínimo de igualdade para dentro dos sets: o pagamento igualitário.
Recentemente Charlize Theron anunciou que ganhava menos do que seu colega de set Chris Hemsworth no filme Branca de Neve e o Caçador. Com isso, percebi uma coisa: não importa se você tiver um Oscar, ou for a Dona Joana, aquela senhora que sempre te vende pão de queijo na padaria, você vai ter que lutar para conquistar uma igualdade de direito que já deveria existir.
Mas todo mundo foi ver o filme pela Charlize…
Apesar de ao longo da história do cinema, várias mulheres conseguiram destaque (a maioria por serem personagens sexualizados, como Marilyn Monroe, e etc), o papel feminino no cinema, tanto diante das câmeras quanto na produção, sempre foi muito limitado. O preconceito ainda é o principal motivo para que as mulheres ainda não ocupem os holofotes de grandes produções.
A prova disso são os estudos feitos pela New York Film Academy, que confirmam em que a maioria dos filmes têm protagonistas masculinos; que mulheres têm menos falas; que o “prazo” de idade para uma mulher é menor do que para um homem; e apenas uma diretora, em 87° edições, foi capaz de ganhar o Oscar (Kathryn Bigelow – Guerra ao Terror, 2009).
Além disso, as 10 atrizes mais bem pagas do mundo do cinema somam 181 milhões de dólares, contra 465 milhões dos atores, de acordo com a lista da Forbes de 2013.
Divulgado pelo The Guardian, no filme A Trapaça, Amy Adams e Jennifer Lawrence ganharam menos cachê do que seus companheiros de elenco Bradley Cooper, Christian Bale e Jeremy Renner.
A Trapaça. Por que elas ganham menos do que eles?
Isso é, no mínimo, preocupante. Por que uma atriz ganharia menos do que o ator que contracena o mesmo filme, com a mesma importância? Por que ser homem seria tão diferencial e tão superior que faria com que todos eles ganhem mais dinheiro do que mulheres? O que faz deles tão mais capazes de dirigir um filme, ou de ser o protagonista? O que faz com que alguém pense que é justo dar mais para um e menos para o outro só porque são dois sexos diferentes?
Não importa quem somos. Não importa o que fazemos. Se somos atrizes, ou se somos empresárias. Ter o mesmo salário que homens é tão fundamental e imprescindível quanto o direito de votar. Quanto o direito de ter a mesma educação nas escolas.
Hoje, nós vemos como absurdos os direitos que tivemos que conquistar. Espero que em anos, olhemos para trás e também pensemos que ridículo era uma sociedade que não pagava o mesmo tanto para alguém só porque ele tinha um determinado sexo. Espero que em anos, esses textos não façam mais sentido. Ou sejam ultrapassados porque já conseguimos o que queríamos. Independente de uma coisa ou outra, precisamos de mais mulheres que lutam. De mais mulheres, famosas ou não, que espalhem por aí que podemos alcançar nossos direitos básicos.
Nós já conquistamos muito. E ainda há muito mais para se conquistar.