As diversas facetas da fama, e as consequências que ela traz, já renderam inúmeros filmes e obras narrativas. Inclusive o Nasce uma Estrela original, de 1937. O que poucas vezes é trabalhado é o viés positivo do sucesso artístico. E parece ser essa a intenção de Bradley Cooper com este terceiro remake da história.
Porque a ascensão de Ally (Lady Gaga) ao sucesso é mostrada em paralelo à decadência do cantor famoso, Jack Maine (Cooper), que a descobriu em um bar de drag queens. Os dois se amam, mas as visões opostas sobre a vida se chocam e, aos poucos, o relacionamento passa a sofrer também.
Assim, Cooper (também um dos três roteiristas do filme, e um dos produtores) reflete sobre arte, valores pessoais, relações de artistas com o público e romance. Seu Maine exala um cansaço depressivo em relação à carreira.
Quando as pessoas pedem fotos e autógrafos, ele os concede quase mecanicamente, por nem se importar mais com interrupções na vida ou quem os outros são. Só mais tarde, quando o roteiro revela que ele acredita que a fama traz armadilhas para os criadores é que se compreende que ele perdeu o ânimo com a música e se perdeu no alcoolismo.
Mas isso não atrapalha Ally, que se adequa sem problema às necessidades para aumentar a popularidade. Os mesmo elementos que tiram a vida de Maine, a fortalecem. É onde os dois atores brilham. Cooper parece trôpego o tempo inteiro, como se visse a vida passar na frente dos olhos sem a perceber.
Ele assume essa decadência com uma voz rouca de um homem desgastado, mesmo que delicado e cuidadoso. Gaga, por outro lado, apenas se entrega emocionalmente a cada momento da carreira de Ally. É tanta honestidade, que a doçura da personagem se torna cativante.
Além das interpretações que carregam a história, Cooper segue um padrão estético de documentários de artistas musicais, com imagens granuladas em espaços escuros, câmeras que seguem os personagens na altura do ombro e que tremem como se fossem carregadas por técnicos que precisam capturar no improviso.
Mas isso não impede que os enquadramentos façam com que a narrativa funcione. Em certo ponto, Ally rouba a cena em um show de Maine e o espectador a vê grandiosa em uma projeção atrás dele. O que revela como ela cresceu e ele, mesmo em admiração a ela, começa a ficar diminuto.
Outros elemento narrativo bem trabalhado é por meio das cores. Desde a fotografia que ilumina os ambientes com vermelho e azul – a primeira cor representante da fama e a segunda da vida cotidiana – até as roupas brancas e pretas, que indicam quando os personagens estão confortáveis.
Uma das graças do uso das cores é que Maine, no vermelho e na fama, se encaminha para o mal estar, enquanto Ally cresce na mesma tonalidade. E o contrário também se apresenta para o azul.
O filme derrapa apenas em trechos em que poucas coisas acontecem, como o começo do relacionamento do casal principal, quando a sequência de cenas não deixa claro o tempo que transcorreu. Assim, a produção parece um pouco mais longa do que precisa ser. Especialmente com o terceiro ato, que se alonga com melodrama desnecessário.
Mesmo que não fosse uma obra surpreendente (uma vez que é a estreia de Cooper na direção), Nasce uma Estrela já valeria apenas pelas cenas de canto da Lady Gaga. Felizmente, ela se torna apenas um dos atrativos principais de um ótimo filme.