Need for Speed chega com um background bastante negativo. Afinal, quando se fala em filmes adaptados de games, a imagem que vem à mente é a de filmes ruins. Quem nunca riu de produções como Mortal Kombat, Street Fighter e Super Mario Bros? Mas a equipe deste filme junto com a EA, produtora do jogo, não pareceram ter medo de correr o risco de adaptar uma série de jogos eletrônicos que não tem história.
Tobey Marshall cumpre dois anos de sentença pelo homicídio de um amigo. Assim que sai da prisão precisa atravessar os Estados Unidos em tempo recorde para conseguir chegar a uma corrida clássica na qual poderá enfrentar o verdadeiro culpado do crime pelo qual cumpriu sentença.
A trama é bem simples e clichê. Todo grande astro brucutu de ação já deve ter feito algo semelhante. Protagonista entra em enormes cenas de ação para se vingar por qualquer motivo que seja. O mais interessante aqui é que essa trama básica serve para alcançar diversos objetivos.
Need for Speed precisa ter referências a diversas características de mais de dez jogos com coisas específicas e diferentes. Ele precisa simular elementos de jogabilidade como diálogos com personagens que dão dicas dos caminhos a serem seguidos, perseguições com carros de polícia tunados. Até a música Riders on the Storm e um ônibus escolar dão as caras. Então os fãs dos jogos terão um prato cheio.
Ao mesmo tempo, o diretor Scott Waugh se propõe a resgatar um estilo de filme de perseguições que tem perdido espaço para os efeitos computadorizados mirabolantes. Todas as cenas são realizadas com efeitos reais. Diversas vezes dá pra ver os atores dentro daqueles carros fazendo algumas manobras complexas. Não fosse o bastante, o filme é uma homenagem aos clássicos do estilo. Tem referência à Bullet, ao James Dean, a Corrida Contra o Destino e até a Operação França.
Costurar tantos elementos do jogo com uma trama que precisa referenciar tantos filmes cria diversos momentos ilógicos. O roteiro do filme em si não faz muito sentido. Assim que o protagonista sai da prisão, a primeira coisa que faz é violar a condicional nessa corrida maluca através do país. Enquanto isso, um homem em uma rádio fica comentando os significados por trás daquela correria.
Os elementos não se encaixam. O protagonista consegue o carro em um empréstimo de um homem rico. Para isso precisa levar uma funcionária dele. Menos de quinze minutos de filme e os dois passam a ser considerados fora da lei e o empregador dá o carro como roubado. Ninguém parece se importar com isso. Ela não está preocupada por ter passado de uma funcionária rica para uma fugitiva desempregada e o mocinho não se importa de ter imposto essa condição a ela.
O grupo que o acompanha é composto por três caras que estão lá apenas para ser coadjuvantes cômicos. Um deles é o típico negro engraçaralho, outro é um mecânico brilhante que não faz diferença para a trama. Literalmente, ele entra em cena para consertar um carro que nunca chega a ser consertado. Logo em seguida, protagoniza uma cena absurda feita apenas para ser engraçada sem significado algum para o enredo. Um desses companheiros parece o inspetor bugiganga. Tira helicópteros e aviões do cinto de utilidades e aparece de qualquer jeito em cena.
Os momentos em que o filme dá destaque para esses personagens e seus estereótipos são péssimos. Os diálogos são idiotas, não são engraçados e só aumentam a extensão de um filme que é mais longo do que precisa ser.
Fora isso, Need for Speed é um filme divertidíssimo. Waugh sabe que seu roteiro não faz sentido e que diversas soluções para resolver questões da trama parecem um delírio. Nada disso importa para ele. O negócio é criar essas incríveis cenas de perseguição com efeitos reais e muscle cars. O foco durante grande parte do filme é um Mustang modificado imenso que faz uma barulheira inacreditável.
Waugh faz isso muito bem. Dono de uma carreira extensa como coordenador de dublês, ele organiza cenas e manobras impressionantes com aquelas máquinas. Algumas inclusive que me deixaram assustado de tão complexas de realizar. As câmeras parecem dançar em volta dos carros em algumas tomadas muito inspiradas e bem realizadas. Sem contar que os carros aqui dão um banho no desfile de motores de uma certa franquia de filmes concorrentes.
Waugh ainda consegue fazer planos lindos das estradas dos Estados Unidos. Em certo ponto do filme coloca um time-lapse que permite compreender uma passagem de tempo. É uma cena tão bonita e usada de uma forma muito comum em vídeos de internet. Nunca tinha visto algo do tipo em um filme de cinema, mas encaixa muito bem tanto no filme, quanto no contexto apresentado.
Waugh também foi esperto com seu casting. Colocar um excelente ator como o Aaron Paul no lugar de um brucutu aleatório faz muita diferença. Ele consegue imprimir uma humanidade a Tobey Marshall que um Vin Diesel ou um Rock não conseguiriam. Em diversas cenas dá para ver em seus olhos os sentimentos que o personagem não demonstra através de palavras. O que é algo muito bom uma vez que se trata de um protagonista taciturno que fala pouco. A expressividade de Paul fala muito.
O Dominic Cooper faz o vilão mau feito o Pica-Pau, mas ele está bem nos poucos momentos em que o personagem demonstra alguma humanidade. Tirando esses casos, ele apenas fecha a cara e fica olhando pra frente forçando uma voz grossa para ter cara de mau.
O clichê fica ainda mais óbvio com a direção de arte. À princípio o vilão usa só preto e o mocinho só branco. Depois do primeiro ato, porém, Marshall passa a usar detalhes de preto para demonstrar um novo lado sombrio. Não é nada inovador ou relativamente digno de nota, mas é correto, o que é mais do que muitas das produções hollywoodianas normalmente são.
O elenco de apoio é qualquer coisa. Mas vale a pena mencionar a mocinha. Uma loirinha bonitinha interpretada por uma tal de Imogen Poots (famosa como a lésbica chacinada de V de Vingança). Ela é uma metralhadora de falas imbecis e canastrices. Tanto que sua participação só vale por sua beleza e porque faz rir com as idiotices de sua personagem.
O outro que merece menção é o Michael Keaton. O eterno Batman do Tim Burton faz o radialista que é uma das referências a Corrida Contra o Destino. Assistindo ao filme fica bem óbvio que todas as suas cenas foram filmadas em um dia. E parece que antes de entrar no set para soltar suas falas ele resolveu beber algo muito forte. Porque ele está louco feito o Batman (sacou?). Ele está abrasivo, grita e gesticula feito um maluco. Em certa cena até parece que vai ficar de pé e começar a sapatear em cima de uma mesa.
Need for Speed é um filme maluco. O roteiro não faz sentido, diversas cenas são gratuitas e alongam demais a produção e o elenco é péssimo, com exceção do protagonista. Mas cumpre diversas de suas propostas. Restaura um estilo antigo de cinema muito bem, tem cenas inspiradíssimas e perseguições de carro como a muito tempo não se vê no cinema.
FANTASTIC…
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