Linda herda o asilo para idosos da mãe, que morreu recentemente. Enquanto passa um tempo no local para fazer o inventário dos bens, pessoas começam a morrer, um vulto estranho parece sondar o local e Linda escuta ruídos durante as noites. Entre os itens deixados pela mãe, encontra um diário que revela que coisas parecidas aconteceram 20 anos antes.
Vale notar que a data de lançamento deste filme é justamente dois anos depois de O Iluminado (de 1980). Muito do horror e da ambientação do filme remetem ao clássico de Kubrick. Next of Kin se encontra na melhor categoria do gênero de terror, ele dá medo, cria tensão e assusta em situações naturais, sem forçar. Não se tornou um clássico cult do cinema de exploitation da Austrália sem motivos.
Escrito pela dupla Michael Heath e Tony Williams, o roteiro aborda a situação de forma simples e inteligente. Lisa chega no local, descobre os mistérios aos poucos e em paralelo leva a vida pessoal. Escala até o clímax, quando tudo é explicado em dois takes rápidos. O filme fica, por conta disso, com enxutos 89 minutos. Recheados com momentos inspirados que exploram a trama principal. Uns dez minutos de toda a extensão da produção envolvem uma sequência inteligente na qual Lisa, no escuro por conta de uma queda de energia, circula pelo asilo para resolver pequenos e bizarros problemas que surgem nos cômodos.
Cena famosa. Olho pela fechadura foi muito lembrado na década de 1970.
Daí entra o talento de Tony Williams, cuja carreira no cinema acabou aqui. Cada enquadramento e movimento de câmera servem à ambientação. Exploram a profundidade dos longos corredores e constantemente omitem pedaços do espaço para que o espectador se mantenha tenso pelo que não sabe. Para isso ele utiliza todos os elementos da parte técnica.
A música brinca com os cortes para causar estranhamento, sons estranhos causam aquele medo noturno de quem sente que não está sozinho em casa. Takes vão da velocidade normal para o lento e transformam gritos de horror em berros guturais. É uma obra de estilo. Uma brincadeira de ambientação do diretor. E funciona como apenas grandes diretores conseguem fazer. Em uma conversa com o Bruno Gunther, do podtrash, chegamos à conclusão de que este filme é o que aconteceria se o Dario Argento dirigisse O Iluminado.
Estilo primoroso. Grito de terror vira berro gutural.
Infelizmente, refletir sobre o roteiro leva à percepção de que ele não faz muito sentido. Ainda assim, a qualidade da direção é tão boa que contorna o defeito. Com um enredo bem escrito, então, este filme seria uma daquelas grandes pérolas inesquecíveis do cinema. Como era, foi apenas a derrocada de um grande diretor e um cult fadado a ser esquecido nos VHSs brasileiros. Para quem não sabe, a produção foi lançada no Brasil em duas versões de fita cassete, uma com o título Mais Próximo do Terror e outra com Terror Fatal.
Mantém-se como uma obra-prima que merece ser descoberta pelos fãs de cinema e do bom terror. Ainda mais em tempos em que filmes do gênero se resumem a possessões sem graça e sustos gratuitos. Vale ainda mais pelos vinte minutos finais que escalam para uma violência muito divertida, envolvente e bem feita.
FANTASTIC…