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Ninfomaníaca: Volume 1

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O Lars Von Trier é um provocador. Quando fez um filme de terror, criou o medo através de conceitos psicológicos relacionados ao sexo. Quando fez uma comédia, era um filme tenso e crítico onde o humor se presta a zombar de conceitos da sociedade, com direito a muitas alfinetadas. O que poderíamos esperar do seu filme assumidamente pornográfico?

Homem chamado Seligman encontra uma mulher, Joe, bastante machucada em um beco. Ela não quer que ele a leve para um hospital ou que chame a polícia. Então a leva para sua casa para que se recupere. No meio tempo, Joe tenta explicar para ele porque se considera uma pessoa má.

Não é preciso muito raciocínio para perceber que se trata de uma analogia à terapia. Ela está praticamente sentada em um divã enquanto ele analisa toda a história sem julgamento.

A proposta é bem simples, acompanhar a vida de uma mulher que possui ninfomania. Ninguém melhor do que Von Trier para fazê-lo. Muito parecido com o cinema de Bergman, a obra do dinamarquês possui grande influência da psicologia. Assim como Melancolia tratava das fases do luto e Anticristo de depressão, Ninfomaníaca explora as consequências da situação de Joe.

Nada de invenção ou draminhas sobre a condição. Cada pequeno detalhe comum das vidas das pessoas ganha consequências específicas. A relação com o pai, a perda da virgindade, o primeiro amor. Joe não tem dependência de sexo, não sente coisas diferentes com o sexo não sofre com a falta dele e é capaz de ter orgasmos normalmente, como qualquer pessoa.

A provocadora Joe. Nada de deturpação do sexo, apenas de seus significados.
A provocadora Joe. Nada de deturpação do sexo, apenas de seus significados.

Enquanto ela tenta convencer seu ouvinte de suas culpas, sua história parece acompanhar a busca por uma lógica em sua mania. Os parceiros não tem valor, assim como o próprio sexo. Na maioria das vezes, ela o usa como fuga ou como forma de não se enganar em relação à vida. Ao mesmo tempo, existe uma busca pelo sexo com significado.

Tudo tem relevância em analogias. Seligman possui diversas características que refletem partes distintas da vida de Joe. Ele compara a caça por parceiros sexuais com a pesca, a progressão da mania com a sequência de Fibonacci, o número de parceiros com a composição de Bach.

Para representar essa lógica mental, Von Trier coloca gráficos na tela representando as linhas de pensamento dos personagens. Se dizem uma coisa que indica seus raciocínios, um gráfico representa isso visualmente. É, em termos cinematográficos, muito rico, envolvente e divertido.

Os atores estão impecáveis. Dando destaque para a ótima interpretação de Christian Slater, que provavelmente tem a cena mais corajosa do filme, e para a potente participação rápida da Uma Thurman. Ainda não pode-se esquecer do Shia Labeouf quebrando a expectativa que se tem de sua pessoa.

De tudo no filme, só ficou o incômodo de não ter final. Quando termina, fica a impressão de que o raciocínio de toda a trama foi cortado pela metade. Vale mesmo porque ele termina com uma reviravolta que deixa com mais vontade de assistir à continuação, que vai contar com os melhores atores do elenco, como o Jaime Bell e o Willem Dafoe.

Um típico filme do Lars Von Trier. Provocador, complexo e riquíssimo em sua construção cinematográfica.

 

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