O segundo capítulo da narrativa de Joe para seu terapeuta/juiz chega aos cinemas com pouco menos de dois meses de diferença em relação ao primeiro filme. A continuação abre com o título rápido e já engata dando continuidade à cena na qual o primeiro acabou. É bem óbvio que trata-se de um único filme que só foi cortado por questões de duração.
Após deixar claro que não consegue mais sentir nada no final do primeiro filme, Joe começa sua jornada em busca do orgasmo perdido. Essa busca vai levá-la por caminhos e experimentações mais extremos. É quando o filme muda de atriz que a interpreta. Stacy Martin sai de cena para que a Charlotte Gainsbourg passe a viver a fase mais velha da personagem.
Logo de cara um contraste vem a tona. No período de três anos da história no qual as duas trocam de lugar, parece que Joe envelheceu entre dez e vinte anos. Por mais que as duas sejam semelhantes, a diferença é grande e dá um choque de realidade imediato.
Principalmente ao se tratar das interpretações das duas. Stacy Martin dá vida para uma mulher que se vicia em sexo quando o usa como fuga da realidade em que vive. Já Gainsbourg enche a personagem de brutalidade, rancor e violência. A primeira é passiva e a segunda é mais agressiva.
O filme é, de muitas formas, mais pesado que o primeiro. Por um lado, o sexo é mais violento e brutal. Por outro, existe uma provocação com conceitos mais polêmicos. Tentando reencontrar o orgasmo, Joe começa a tentar o uso de sadismo e violência, o que vai levar a consequências pesadas. Enquanto isso, começa a cruzar caminhos com pedófilos e ainda os defende.
Disso escala para que a vida social de Joe se torne violenta além do sexo. É onde entra o personagem do Willem Dafoe e é também onde o filme fica estranho. A jornada de Joe em um novo mundo, desta vez como criminosa, destoa do resto da história. Parece irreal em contraste com tudo o que aconteceu antes. Ainda assim, é importante para o momento em que ela é encontrada espancada no começo da história.
O primeiro filme se focava mais na demonstração da personalidade de Joe e sua relação com a sexualidade. Agora a história encaminha para o final. Todas as tramas importantes para que esse momento chegue se desenvolvem aqui. Por isso, a segunda parte também é menos arrastada.
Continua sendo um filme do Lars Von Trier. Então é tudo muito conceitual. As conversas com Seligman constroem mais significados que anteriormente. Alguns até bobos demais, mas o filme brinca com isso, dizendo que a digressão dele foi fraca. A conversa dos dois revela que ele é, de muitas formas, o oposto dela. O que leva ao final da produção.
A sessão de terapia extensiva chega ao final que inverte os valores dos dois. Nenhum dos dois é realmente doente, apenas levam estilos de vida diferente. Mas o diálogo os subvertem. A impressão que ficou foi a de que Von Trier quis demonstrar como os pacientes podem ter influência sobre os terapeutas assim como os terapeutas tem sobre os pacientes.
Parte dos atores se mantém no mesmo nível do primeiro filme. A diferença está nos novos. O Willem Dafoe está num daqueles papéis filmados em apenas um dia. O mais interessante é o Jamie Bell. Ele coloca vários detalhes na interpretação curta de um homem sádico. É bom ver um ator fazer muito com pouco como ele faz aqui. Seja um olhar baixo em uma cena e depois a mudança de postura entre quatro paredes, Bell rouba as poucas cenas em que faz parte.
Em termos de ritmo e de narrativa, Ninfomaníaca – Volume 2 é muito mais fluído e interessante que o primeiro. Mas o primeiro possuí uma reflexão sobre o vício e sobre tratamentos terapêuticos mais interessante. Os dois juntos formam um filme completo que certamente é muito difícil de assistir de uma só vez.
ALLONS-YYYYYYYYYY…