Parte da vida do renomado pintor holandês Vincent Van Gogh é tema do novo filme de Julian Schnabel, conhecido por dirigir O Escafandro e a Borboleta. O recorte temporal escolhido foi o período de 1888 a 1890, em que o excêntrico artista passou nas comunas francesas de Arles – onde ficava localizada a famosa Casa Amarela – e Auvers-Sur-Oise. Lá, até a própria morte, ele encontrou a luz do sol que tanto almejava e teve um período prolífico em que desenvolveu o estilo único de se expressar nas obras.
O escolhido para interpretar o artista foi William Dafoe (Projeto Flórida). O papel lhe rendeu uma indicação ao Oscar. O ator entrega em tela um homem com diversos sintomas de loucura, mas, sobretudo, com muito pesar, angústia e inadequação ao mundo em que vivia, como no momento em que corta uma das orelhas. Ele também mostra o lado de grande sensibilidade do artista, reforçado nos encontros com o irmão Theo (Rupert Friend). Isso é, definitivamente, o que torna a atuação merecedora de elogios. Outro destaque é Oscar Isaac como o egocêntrico pintor francês Paul Gauguin, amigo e confidente de Van Gogh.
A arte é presente durante todo o decorrer da narrativa. Há referências a diversos nomes, tanto daquela época quanto de outras, como Shakespeare, Monet, Degas, Renoir, Velázquez, Goya, Frans Hals, Delacroix e Veronese. Além dos próprios desenhos e telas de Van Gogh, que são constantemente mostrados, tanto durante a produção quanto já finalizados, a fotografia do filme lembra com frequência obras impressionistas – principalmente ao retratar a imensidão da natureza, com lindos e vastos campos, em tons de amarelo, bege, verde e azul. O recurso deixa o longa-metragem ainda mais envolvente, assim como as câmeras trêmulas que entram em cena quando o holandês enfrenta momentos de alta tensão.
Com grandes planos gerais que ressaltam a beleza paisagística e close-ups que deixam o espectador completamente envolvido nas frustrações de Van Gogh, No Portal da Eternidade é um bom filme. É um longa-metragem de ritmo lento, mas, por ter 111 minutos de duração, isso não gera incômodo. O pintor é um dos mais importantes nomes das artes visuais e, por isso, sempre é relevante retratá-lo. O grande diferencial da obra de Schnabel é a sensibilidade utilizada para expressar em tela a constante busca do artista holandês pela eternidade. No tempo em que viveu, não conseguiu o reconhecimento desejado, por produzir trabalhos que geravam incômodo. Porém, com o decorrer dos anos e mudança de pensar do ser humano, apesar de morto, conseguiu o que tanto queria: marcou para sempre a história.