Não tinha a menor ideia do que veria assistindo Noites de Reis. O único conhecimento era o nome do diretor, Vinícius Reis. Fui ao cinema para me surpreender. O que realmente aconteceu. A princípio me surpreendi com a singeleza e a sensibilidade. Eventualmente me surpreendi com o sono.
Em um incêndio, Dora perde seu filho. Diante da dor o marido vai embora. Cinco anos depois, ela e a filha que sobreviveu conseguiram se estabelecer bem na comunidade de Paraty. Estão começando as comemorações do Natal típicas do local. De repente duas figuras masculinas surgem em suas vidas.
Entendeu a sinopse? Beleza. Agora esquece. A história é a coisa menos importante do filme. Os acontecimentos não seguem uma narrativa. O negócio aqui são as analogias. Extremamente profundas e trabalhadas.
Enquanto a cidade pula de alegria, Dora é a face da tristeza, guardando seus picos para quando consegue ficar escondida, chorando aos gritos em uma praia deserta. A pessoa que vem reorganizar sua vida é um restaurador de obras. O marido desaparecido se afunda em silêncio, tentando esquecer sua tristeza. Ele some debaixo das águas procurando o filho morto e abandona a filha ainda viva.
Por aí vai. Tudo é metáfora para o sofrimento da perda. Sejam os silêncios, os empregos, a cidade, as celebrações. Vinícius Reis faz isso com uma direção majestosa. Enquadramentos lindíssimos compõem a tristeza daqueles três perdidos dentro da beleza de Paraty.
O que pega é que, para realizar essa grande metáfora do sentimento, Vinícius coloca os atores diante das câmeras liberando toda a dor por minutos a fio. Um plano de choro dura muito tempo. Planos longos são usados para mostrar como é a reflexão do sofrimento. Como a pessoa se perde na própria miséria e perde a noção de tempo.
Entendo a proposta, mas cansa demais. Trinta minutos de filme parecem levar três horas. Eu via os enquadramentos, achava lindo, pensava nas metáforas, depois começava a pensar em outras coisas da minha própria vida. O que vou jantar hoje, que horas é o jogo amanhã? De repente corta para outra cena e mais beleza, mais metáforas e volta para os pensamentos sobre a rotina.
Os atores estão fenomenais. A forma como seus olhares dizem o que não ousam falar é incrível. Principalmente a Bianca Byington e o Enrique Díaz (prêmio de melhor ator no festival de Brasília). A menina Raquel Bonfante se esforça, mas ela apenas parece uma criança que segue a direção apontada e solta as falas sem grande expressividade.
Um filme lindo de morrer, mas lento demais. Gostaria de ver mais coisas desse Vinícius Reis.
ALLONS-YYYYYYYYY…