Suzu Asano é uma colegial que vive com um peso sobre os ombros: sua falecida mãe foi a razão de seu pai ter abandonado a primeira esposa. E as três filhas que teve com ela. Quando seu pai também morre, as três meia-irmãs Sachi, Yoshino e Chika aparecem para o funeral. O encontro tem um grande potencial para uma situação constrangedora e deveras amarga, mas ao invés disso, o trio estende a mão, e oferece a Suzu a oportunidade de morar e conviver com as irmãs, que ela nunca conhecera até então.
Nossa Irmã Mais Nova tem uma premissa simples, e é em sua simplicidade que reside grande parte de seu charme. O filme de Hirokazu Koreeda é uma sucessão de cenas do cotidiano dessas quatro mulheres, diferentes entre si e em momentos diferentes da vida, mas que encontram no núcleo familiar e na casa com suas portas de correr e seu jardim um lugar seguro e amável.
Cada uma das personagens vive seu próprio drama individual que se relaciona com o drama dos pais. Os problemas e os segredos, contudo, sempre se diluem dentro do universo delicado da casa e da família. Tudo tem essa atmosfera de feminilidade, de cuidado e de fragilidade que dá ao filme um poder quase físico de tocar o espectador.
Particularmente para nós, uma audiência ocidental, observar os costumes e a rotina de uma família tipicamente japonesa torna-se deveras interessante. As expressões, os gestos, a relação entre as pessoas, com a casa e com o mundo, tudo é diferente. E incrivelmente bonito.
Suzu Asano é interpretada por Suzu Hirose, de 17 anos e novata no mundo do cinema. Mesmo assim, ela consegue acompanhar valentemente as três veteranas Haruka Ayase (Sachi), Masami Nagasawa (Yoshino) e Kaho (Chika).
Haruka Ayase, que já participou de diversas obras cinematográficas, incluindo o incrível Ichi (2008), está bastante comovente no papel da irmã mais velha, responsável por todos e que teme acabar repetindo a história dos pais. Masami Nagasawa, que também tem um currículo de peso, consegue nos cativar com sua personagem otimista e namoradeira. E Kaho acrescenta a comédia, no papel da irmã mais nova ‘diferentona’, que finalmente sobe de status na hierarquia familiar com a chegada da ‘nova caçula’, Suzu.
Assistir cenas de café da manhã, segredos compartilhados, a superação da mágoa e das feridas causadas pela família, festivais típicos e cenas de amor fazem a obra de Koreeda valer muito a pena.
É sem dúvida uma obra cinematográfica apaixonante e extremamente bela, que representa muito bem o cinema japonês e pode inclusive provocar uma vontade maior na audiência de assistir filmes nipônicos.