Stan Hurley, personagem de Michael Keaton neste O Assassino: O Primeiro Alvo, dá uma bronca no aprendiz de caçador de terroristas Mitch Rapp (Dylan O’Bryan). “Homens maus querem fazer maldades. Nosso trabalho é deter eles.” Com esse mesmo maniqueísmo, o filme de ação com espionagem tenta criar um novo herói estadunidense para os cinemas.
É o que acontece quando Rapp testemunha a noiva ser assassinada em um atentado terrorista logo após ter pedido ela em casamento. De um jovem sorridente e simpático, ele começa um treinamento por conta própria para se vingar dos terroristas e chama a atenção da CIA, que o convoca para fazer parte de uma unidade de elite secreta.
Assim como Jack Ryan (que já foi vivido nos cinemas pelo Alec Baldwin, pelo Harrison Ford, pelo Ben Affleck e pelo Chris Pine), Alex Cross (Morgan Freeman e Tyler Perry) ou Jack Reacher (Tom Cruise), Rapp é protagonista de uma série de livros de suspense com a fórmula velha de capítulos curtos e repletos de ganchos. Da mesma forma dos outros heróis literários, Rapp tem suas dezenas de títulos.
A sacada do CBS Films, estúdio produtor do filme, de pegar justamente o romance em que Mitch se torna um agente serviu de benefício para o jovem O’Bryan. O ator já havia revelado alguma capacidade dramática no errático Maze Runner, mas aqui tem a chance de mostrar habilidade física como o espião que resolve todos os problemas entre escaladas, lutas e tiroteios.
Isso porque o personagem não oferece muito para ele interpretar. Motivado a matar pessoas más, como as que mataram a noiva dele, Rapp não tem algo de que gosta, algo que estudou, sonhos ou qualquer coisa do tipo. Em algum ponto uma faculdade é mencionada de leve e fica por isso.
Junto com quatro roteiristas, o diretor Michael Cuesta decide fazer com que o trauma do atentado seja a razão principal do personagem com uma longa (e bem feita) cena de abertura com a morte da noiva que deveria reverberar em todas as ações dele durante o filme.
O problema é que, uma vez que a trama de vingança é deixada de lado para que Rapp se torne um agente secreto e herói de ação, essa motivação é esquecida pelo espectador, que apenas acompanha o enredo de espionagem fraco e sem originalidade.
Uma vez treinado, Rapp tem que acompanhar o chefe em uma missão na Europa para impedir a compra de uma bomba nuclear pelo antigo aprendiz de Hurley, conhecido apenas como Fantasma (Taylor Kitsch), que era tão talentoso e motivado quanto o protagonista.
Entre os draminhas típicos e a ação, a personalidade de Rapp some para que ele vire o herói esperado de uma franquia de filmes de espionagem. Por outro lado, O Assassino funciona justamente nos tiroteios e lutas. Apesar de Cuesta seguir a cartilha de cortes rápidos que muitas vezes perdem os movimentos e golpes, o excelente trabalho de dublês funciona muito bem com coreografias realistas, que condizem com a fotografia acinzentada da produção.
E, mesmo com o enredo sem originalidade, o desenrolar da história nunca deixa o espectador perdido sobre os riscos e objetivos de cada personagem. O que normalmente é um problema em filmes de espionagem, que possuem reviravoltas demais para muitas narrativas paralelas.
Com isso, O Assassino é um filme de ação que não perde o espectador, apesar de não fazer nada de novo que possa surpreender. Vai passar rápido e ser esquecido na mesma velocidade. Incomoda muito mais a noção de que é preciso haver heróis brutais para salvar o mundo de terroristas criados pelos próprios Estados Unidos. O tema, diga-se de passagem, recebe uma abordagem superficial e preguiçosa na produção.