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O autor morreu?

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Recentemente ouvi um episódio de um podcast famoso no qual convidaram alguns autores de livros. Os escritores começam, em certo ponto, a criticar alguns pontos de vista de leitores que não se encaixam na proposta que pretendiam para suas obras. Um ou outro se questionam sobre a relevância de suas opiniões pessoais enquanto a maioria apenas zomba o que os outros vem em seus livros.

Eis que surge o questionamento. Afinal de contas, uma obra é apenas sobre aquilo que o autor acredita estar tratando? Essa discussão vai além da literatura. Praticamente qualquer mídia para comunicação pode se encaixar aqui. Até mesmo os posts deste blog.

Um canal do youtube chamado Idea Channel tratou deste tópico de uma forma brilhante. Em um episódio eles decorreram sobre o anime Neon Genesis Evangelion, os temas tratados no desenho e o que o criador pretendia quando o fez.

Caso tenha interesse e saiba falar inglês, veja abaixo. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=SVm65tlhqw8]

Resumindo: o autor do anime, Hideaki Anno, fez um desenho de ação para expressar seus problemas de depressão e timidez. Mas o desenho cresceu em popularidade ao redor do mundo e ganhou análises muito mais elaboradas e profundas que em sua origem. O que o vídeo questiona é, só porque Anno diz que o desenho não é sobre o que os fãs vem nele que o desenho não é realmente tão profundo?

Ou seja, será que a opinião do autor realmente importa?

Dizem que, a partir do momento em que um livro é lançado, ele deixa de ser do autor e passa a ser de todos a quem ele cativa. Afinal, cada obra é compreendida sob o ponto de vista subjetivo de cada receptor. Ninguém vê o mesmo filme que outra pessoa.

Quando assisti Frances Ha, achei um comédia divertidíssima. Minha namorada, porém, o considerou um filme triste. Depois que ela expôs seu ponto de vista, não pude discordar. Ao mesmo tempo em que ainda o considero hilário. Nós vimos filmes diferentes baseados em nossas referências pessoais distintas. Ambas, com certeza, divergentes das dos envolvidos na produção.

Na época de Juno, aquele filme independente que roubou a atenção de todo o mundo, li mil e uma críticas e textos sobre o que o filme tratava. Todos falavam sobre coisas diferentes, mas nenhum discorria do que eu havia entendido. Até que li um texto de uma colunista não entendida da área de cinema (ela chega a afirmar que sequer é grande admiradora). Lá ela descreveu tudo o que sentiu e pensou no decorrer da projeção.

Ah! Então você acha que entende mais de cinema do que todo mundo?
Ah! Então você acha que entende mais de cinema do que todo mundo?

Para minha surpresa, ela compreendeu tudo o que eu havia visto, somado a tudo o que todos os críticos que li descreveram. Depois pesquisando sobre a opinião dos realizadores, percebi que ela percebeu ainda além do que eles próprios viam no filme. Então me peguei tendo uma revelação. É possível que uma pessoa leiga seja capaz de compreender a sensibilidade de uma obra melhor que todo tipo de estudioso. Basta que essa pessoa tenha a sensibilidade adequada para o que é apresentado.

Por isso mesmo considero toda e qualquer opinião válida. Algumas mais fundamentadas que outras, é claro. Mas toda opinião merece ser respeitada. Se um filme, um livro, uma música, um desenho, um texto, um discurso, um ato, uma dança, qualquer coisa for capaz de causar compreensão, esse algo não é objetivo. O vídeo do Idea Channel descreve isso muito bem ao usar conceitos de semiótica em seus argumentos.

Chegamos ao seguinte fato, todo tipo de expressão comunicativa abre espaço para compreensão subjetiva. Porque toda comunicação é feita através de representações de coisas reais através de palavras, símbolos e imagens. Uma vez que não temos a realidade por si só, mas apenas uma representação dela, toda compreensão é válida, ao mesmo tempo em que não é totalitária.

Outras mídias possuem exemplos interessantes sobre o assunto. Nos videogames, existem os jogos Limbo, Journey, Braid, Dear Esther, Gone Home. Nas histórias em quadrinho temos coisas bacanas como Fracasso de Público, Y: Último Homem e Retalhos. Até desenhos animados infantis representam bem essa questão como em A Hora da Aventura.

Recomendo fortemente acompanhar o canal Idea Channel. A forma dinâmica e informal para explicar questionamentos complexos relacionados a semiótica e outros conceitos acadêmicos é brilhante. Principalmente os vídeos sobre capitalismo em Jurassic Park e feminismo em A Hora da Aventura.

 

FANTASTIC…

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