Steven Spielberg aparentemente quer voltar a ser referência. Depois de Ponte dos Espiões em 2015, foi a vez deste O Bom Gigante Amigo em 2016. Já tem previsão de The Kidnapping of Edgardo Mortara para este ano e da adaptação Jogador Nº 1 para 2018. Aqui ele volta aos universos infantis que tanto acertou no começo da carreira. A dúvida é se, no alto dos 70 anos, ele ainda tem o mesmo talento.
Ele filma aqui a história da garota órfã Sophie (Ruby Barnhill), que vê o Bom Gigante Amigo (Mark Rylance), um homem imenso nas ruas de Londres, onde vive. Para garantir que ela não vai contar sobre ele para outros humanos, o ser enorme a leva para o reino em que mora. À princípio, ela tenta fugir, mas os dois descobrem aos poucos que têm muito em comum.
É uma narrativa comum de pessoas com problemas e que se encontram perdidas, mas que crescem e melhoram quando convivem. Aqui, é feito entre uma criança inglesa que não conhece nenhuma família e um gigante inocente de bom coração. A intenção é fazer um entretenimento para crianças mais novas com diálogo diretamente ingênuo, mesmo que com pessoas adultas por trás da realização.
Adaptado da obra de Roald Dahl, o mesmo criador de A Fantástica Fábrica de Chocolate e de Matilda, Spielberg retoma a parceria com a roteirista Melissa Mathison, com quem fez E.T.: O Extraterrestre. O que os dois têm de diferencial para fazer esses filmes é uma visão única do ponto de vista de crianças. Eles usam esse potencial para criar uma história quase que imaginada por uma menina, inclusive nas soluções e reviravoltas.
É preciso dizer em antemão, O Bom Gigante Amigo é um filme com um nível de inocência e ingenuidade para crianças muito pequenas. Os diálogos entre Sophie e o Bom Gigante Amigo são como os de dois infantes muito novos, o que evidencia o público alvo da produção.
Isso fica ainda mais claro na estrutura e na trama. O filme se divide em duas partes, a primeira em que Sophie e o novo amigo se conhecem e a segunda, na qual buscam uma forma de livra-lo dos inimigos que praticam bullying representados por gigantes ainda maiores. Mesmo quando ele é maltratado, a música divertida e as estripulias juvenis dos vilões são claramente feitas para divertir os pequenos.
Spielberg faz o filme inteiramente com atores reais e personagens digitais. O mundo de Sophie é real e o do Bom Gigante Amigo feito em computação gráfica, o que requer um trabalho de efeitos especiais extremamente bem feito, o que acontece aqui. Mas ainda existe um estranhamento nas interações. Ela se destaca no mundo dele porque tudo parece falso e ele se destaca no dela porque ele parece falso.
O pior é quando o filme chega na segunda metade e as soluções se tornam tão fantasiosas que é impossível não rir do que acontece em cena. Porém, dialoga maravilhosamente bem com crianças que acreditam que aqueles planos podem dar certo. Passa na tela uma sequência de cenas divertidas para os pequenos que envolvem peidos e cachorros fofinhos e senhoras bondosas que se permitem acreditar como crianças.
Tudo isso funciona ainda melhor por conta da presença de Ruby Barnhill, que é tão adorável e parece verdadeiramente acreditar em tudo o que acontece. Ela faz os diálogos com o gigante parecerem reais e o mundo ser crível. Mesmo que a computação não faça.
Um filme infantil divertido e voltado para as crianças, mas que não foi feito para os pais que as acompanham. Ainda assim, é bom ver o Spielberg usar a criatividade para cenas inteligentes e elaboradas como um plano sequência no qual ela interage com redes, helicópteros e gigantes.