No fim dos anos 1990 e começo dos 2000, a Dreamworks tentava ganhar espaço no mercado de animações antes de descobrir uma fórmula com Shrek. No caminho, coisas interessantes como este O Caminho para El Dorado surgiram. Além dele, fizeram também O Príncipe do Egito e Sinbad: A Lenda dos Sete Mares. Nenhum é muito lembrado, mas tampouco são ruins.
Como o nome indica, a história é sobre a cidade mística feita de ouro que se acreditava que existia em algum ponto da América do Sul ou América Central. Tulio (voz do Kevin Kline) e Miguel (voz do Kenneth Branagh) são dois amigos trambiqueiros na Espanha que acidentalmente ficam náufragos em uma ilha deserta com um mapa para El Dorado.
Na época, o cinema de animação passava por um fenômeno que ocorre de tantos em tantos anos. Os filme que dominavam o mercado não tinham inspiração. Enquanto a Disney tentava se reinventar com coisas como Lilo & Stich e A Nova Onda do Imperador, outros estúdios imitava o estilo de musicais com lendas clássicas e tom de comédia.
O Caminho para El Dorado é sobre dois malandros de bom coração divertidos em aventuras fantásticas. Formulaico, mas como sempre é preciso lembrar, existe uma razão para algo se tornar uma fórmula. E como nos melhores casos, quando bem aplicada, é ótimo. Aqui funciona porque o humor mistura piadas sobre as malandragens de Tulio e Miguel com pequenos momentos surreais que apenas animações permitem acontecer.
Logo no começo, a dupla foge de um touro raivoso pelas ruas e, na correria, engana os soldados do exército que enganaram em um jogo de dados. Ao mesmo tempo, pulam muros que o animal remove do lugar e inimigos são atropelados com sons de pinos de boliche. É divertido por ser rápido e engraçado ao mesmo tempo que cria empatia pelos dois.
Também ajuda o fato de que eles sempre tentam passar a perna em personagens grosseiros e violentos. Quando arrumam companheiros, eles normalmente são pessoas ou animais que não fazem mal a ninguém.
Entre as aventuras divertidas, como o confronto com um jaguar de rocha gigante, a trama se aprofunda nas diferenças dos protagonistas. Miguel quer a vivência e Tulio quer o dinheiro. Apesar de serem melhores amigos e companheiros, os objetivos divergentes os fazem se confrontar ao encontrarem a cidade de ouro. Nenhum dos dois está certo e nenhum está errado. Justamente por isso, é ainda mais saboroso ver os choques de ambos.
Os dois ganham ainda mais com a dublagem dos atores Kevin Kline e Kenneth Branagh, que até se parecem com os personagens em algum nível. É quase possível ver o rosto de Kline em Tulio. Os dois cantam e parecem se divertir nos papéis, o que transparece no resultado final.
A animação usa uma mistura de técnicas de desenho a mão com cenários e objetos tridimensionais. Não é incomum, mas aqui é usado para criar tridimensionalidade em tudo, até no que é bidimensional. Miguel e Tulio são sempre feitos a mão, mas as sombras e luzes nos dois são digitais ao mesmo tempo em que eles são espalhados em camadas tridimensionais. Quando esticam a mão para a câmera, o braço é destacado digitalmente. É impressionante de assistir porque o estilo nunca pareceu tão espacial.
Uma aventura, no melhor sentido do gênero. Divertido, movimentado e envolvente. É quase uma pena que a Dreamworks tenha mudado de estilo mais pra frente.