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O Caseiro (2016)

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O cinema nacional trabalha em raras ocasiões com gêneros além do que normalmente é sucesso ou tendência. De todos os estilos, o de terror é um dos que menos tem presença nas produções do Brasil. Entre obras que são mais reconhecidas internacionalmente e o Zé do Caixão, ver uma tentativa como O Caseiro é quase um suspiro de alívio.

A história segue uma premissa comum a tramas de terror. Homem incrédulo, aqui na pessoa do professor de psicologia Davi (Bruno Garcia), vai para residência de pessoas que afirmam que lidam com alguma manifestação do paranormal: Neste caso em específico, uma fazenda no interior de São Paulo construída ao lado de uma lagoa. O fantasma do antigo caseiro da residência supostamente maltrata e machuca a filha mais nova da família que mora lá, Júlia (Bianca Batista).

Histórias de fantasmas são comuns. Se tiver reviravoltas sobre os fantasmas e as relações dos mesmo com os vivos, fazem parte de um clichê criado de maneira brilhante em O Sexto Sentido. O Caseiro segue a regra à risca. A cada descoberta de Davi, um novo mistério se mostra. A verdade se revela em camadas até que, no clímax, o espectador é surpreendido.

menina olha pra cameraCrianças em contato com o mal. Outro clichê do gênero.

A ideia é boa e rende a parte de maior qualidade de O Caseiro: o roteiro. Com duração enxuta de menos de 90 minutos, todos os mistérios e reviravoltas se revelam sem enrolação ou parecerem absurdos. O texto do diretor do filme, Julio Santi, junto de João Segall trabalha com um twist. Quando se descobre a verdade por trás do mistério dos fantasmas, é possível notar que diversos elementos que não pareciam importantes através do filme eram pistas fundamentais. A vontade imediata é de voltar para outra sessão e ver como elas se encaixam antes da revelação final.

Se a ideia e a concepção funcionam muito bem na parte escrita, é na adaptação para a tela que as coisas dão errado. Santi se esforça para criar uma direção estilizada e fora do padrão brasileiro. Cria movimentos sutis com a câmera para dar noção de espaço e usa enquadramentos belos para compor a ambientação. O primeiro enquadramento do filme demonstra isso perfeitamente. É a imagem inicial desta crítica e revela o tal do caseiro, o clima de desolação, é de suma importância para a história e ainda é um plano bonito. Mas esses momentos são raros. O diretor tenta fazer com que a câmera pareça a visão de alguém que espreita nas sombras, mas o excesso de cortes entre as imagens causa estranhamento. Mais de uma vez um plano é cortado para outro que não encaixa nos movimentos de cena. Principalmente nas cenas de diálogos e exposição. Pelo menos não há tentativas de criar sustos fáceis e preguiçosos, como na maioria dos filmes de terror.

Bruno Garcia e o resto do elenco que o acompanha sofrem com os vícios de interpretação para a TV. Entre frases que não se encaixam no padrão de linguagem coloquial e sílabas enunciadas cuidadosamente, as falas parecem falsas. Principalmente quando se usa o verbo estar. Se alguém no Brasil diz “eu estou” ou “você está”, essa pessoa não se encontra em uma conversa coloquial. Para piorar, não parece existir emoção nas interpretações. Santi faz com que todos os personagens demonstrem uma falta de sentimentos constante. Mesmo em momentos nos quais uma pessoa se encontraria preocupada, como quando uma criança machuca o joelho, a reação geral nos rosto é de uma indiferença inquietante. O incômodo no resultado final arruína a ambientação. Não há sensação de medo ou de tensão, o que deveria ser obrigatório em um filme de terror.

Bruno Garcia gritaBruno Garcia em um dos raros momentos em que muda de expressão.

Para fechar os problemas da ambientação, há a direção de arte desequilibrada. Entre os cenários interessantes e ricos como a casa abandonada do caseiro e a da família assombrada, os detalhes sobre quem são aquelas pessoas são de uma pobreza irritante. Os únicos objetos pessoais de Davi são quadros sobre um ou outro autor de psicologia. A personagem adolescente, Gabi (Victória Leister), lê livros sem nome em um quarto sem imagens ou adesivos típicos da fase que ela vive. Não há, nos sets e cenários, ambientação ou aprofundamento dos personagens.

O efeito é uma obra mediana. Trama e roteiro ótimos enriquecem o trabalho de um diretor que se esforça em fazer algo de grande valor de produção. Infelizmente, uma padronização de produções para a TV fazem com o que poderia ser um filme acima da média seja reduzido a nada menos que ordinário.

 

GERÔNIMOOOOOOOO…

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