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O Destino de Júpiter

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A imagem acima resume muito bem o que é O Destino de Júpiter. É bonito pra caramba, tem uma porrada de coisas incompreensíveis, o Channing Tatum está bizarro e a Mila Kunis aparentemente não tem ideia do que acontece ao seu redor. Ainda assim, tudo parece ser interessante em algum nível inatingível pela lógica.

Júpiter Jones (Kunis) é uma descendente russa que vive nos Estados Unidos com a família como faxineira. Um dia ela é atacada por um grupo de alienígenas e salva por um homem geneticamente misturado com lobos chamado Caine (Tatum). Ele revela para ela que a Terra é parte de um grande império intergalático, que ela é parte da nobreza e também dona do planeta. Em meio aos mil e um takes de computação gráfica e cenas de ação malucas, a trama serve a camadas de filosofia, críticas ao capitalismo e reflexões sobre diferenças sociais.

A direção de arte é belíssima (quando não serve aos exageros como cabelos bizarros ou humanos com asas), com diferenciação de culturas interestelares em muitas camadas de cores e estilos. As tomadas espaciais mostram imagens avassaladoras de planetas, luas, satélites naturais e todo o tipo de visual espacial. A fotografia é bela e engrandece os detalhes da arte (e nos piores casos, revela os defeitos dela).

jupiter-ascending-tatum-kunis-rocket-bootsCores e efeitos para todos os lados.

O roteiro segue uma estrutura que os Watchowsky repetem com frequência. Protagonista descobre ser alguém especial que pode fazer alguma diferença, encontra mentores através do caminho, é traído, a traição conduz para o terceiro ato onde a tal diferença é revelada e o personagem assume o papel de valor prometido pela história. Em meio a isso, diversos temas são repetidos. A humanidade é cultivada para servir como suprimento de forma cruel para alguma representação de maldade. O amor é o caminho para a descoberta do diferencial do herói. Todos estes recursos servem de analogia para alguma questão social ou filosófica.

Em Matrix, Neo descobre que pode ser o escolhido, é conduzido por mentores como Morfeu e o Oráculo enquanto aprende sobre o universo do filme. Eventualmente ele é traído por um colega e Morfeu se sacrifica para salvá-lo. Então, nos esforços para salvar Morfeu, ele se revela o escolhido. Tudo com o apoio do amor verdadeiro de Trinity e cheio de referências a Platão e como a sociedade aliena os cidadãos.

Em O Destino de Júpiter, uma garota descobre ser dona da Terra, é conduzida por mentores como Caine, Stinger (Bean), Kalique e Titus até ser traída por mais de um deles. As traições a conduzem para o confronto com o vilão, Balem (Redmayne), que a forçará a se decidir sobre o verdadeiro valor da vida tanto dela, quanto da família, quanto de toda a humanidade. As escolhas a revelam como digna da propriedade planetária. Tudo com o apoio do amor verdadeiro de Caine e muitas discussões existenciais e religiosas ao mesmo tempo em que situações satirizam as diferenças entre classes sociais.

Falando assim, O Destino de Júpiter parece um filme interessante, mas não é. Se as discussões, a mitologia, o desenho de produção e a fotografia apresentam algo interessante, a direção e a montagem arruínam o que poderia ser uma excelente obra. Primeiro porque os Watchowsky tem uma tendência terrível de extrapolar os universos que criam. Se a mitologia é interessante, ela também é elaborada demais e o filme tenta explicá-la completamente em duas horas de duração e nem sempre essa explicação é bem feita. Em determinado momento, abelhas reconhecem a nobreza de Júpiter, muito mais tarde surge a explicação sobre manipulação genética dos seres da Terra. Sem isso, a cena dos insetos voadores é apenas ridícula.

A montagem corta de uma grande perseguição diretamente para um diálogo muito importante, complexo e mal escrito. Como se a ação cheia de cores e efeitos especiais não fosse confusa o suficiente, ela sempre é cortada para uma conversa em que algum dos irmãos vilões do filme explicam para Júpiter como funciona a comunidade intergalática ou o sistema de herança deles.

_Jupiter_Ascending__trailer_twoAlguém dá um café pra essa menina acordar.

Para piorar, a protagonista, Mila Kunis, parece estar com sono o tempo inteiro e não interpreta muito, apenas está lá para dizer as falas. Ela não parece interagir com o mundo, apenas aceita tudo como se fosse uma esponja sem sentimentos. Tatum, por outro lado, é bom. Ele assume alguns trejeitos de animais caninos e demonstra sentimentos com pequenos gestos, mas é tão esquisito quanto todo o resto daquele mundo. Os dois não possuem química e todas as cenas românticas parecem fora de lugar porque não dá para acreditar que o tal amor dos dois não passa de um tesão momentâneo.

O Sean Bean é tão bom ator que consegue vender até as falas mal ambientadas e ilógicas que precisa soltar constantemente. Além disso, cria uma grande performance física para um homem com a idade dele. Já Eddie Redmayne passa vergonha. O Destino de Júpiter é um ótimo contraponto para a grande interpretação dele em A Teoria de Tudo. O personagem possui uma personalidade coesa e interessante, mas Redmayne está tão histérico e exagerado que apenas passa vergonha.

O Destino de Júpiter é um exemplo interessante de como funciona a filmografia dos Watchowsky. Tem a estrutura de roteiro de Matrix e Speed Racer, mas falha na concepção pela bizarrice do estilo dos dois, como a maquiagem de A Viagem ou os excessos das continuações de Matrix.

 

GERÔNIMOOOOOOOO…

1 comentário em “O Destino de Júpiter

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