Começou aquela época em que os filmes de festivais e obras de “arte comerciáveis” de Hollywood desfilam pelas salas de cinema. Representante do segundo estilo, este O Destino de uma Nação é fácil de reconhecer para quem acompanha as maratonas de premiações.
A história acompanha um evento real diretamente ligado com a Segunda Guerra Mundial e com a monarquia britânica (alguém lembra de O Discurso do Rei, A Rainha, A Dama de Ferro, Elizabeth e vários outros filmes do tipo?). No caso em especial, Winston Churchill (Gary Oldman) é eleito para o cargo de primeiro ministro e tem a missão de guiar a Inglaterra no conflito. Mas os rivais de parlamento fazem pressão política contra ele e a iniciativa de confrontar Hitler.
O foco gira especialmente ao redor do evento na praia francesa de Dunquerque, em que as atitudes de Churchill levou ao salvamento de 300 mil soldados ingleses. Quem tiver interesse em saber mais, pode procurar o longa Dunkirk, deste ano. A proposta é um prato cheio para momentos emocionantes nas mãos de um grande elenco digno dos orçamentos hollywoodianos.
É uma fórmula obrigatória para a época de premiações. Especialmente neste caso, em que o ator principal dá uma interpretação extraordinária. Oldman se esconde sob múltiplas camadas de próteses para ficar com o corpo e o visual do político, mas a atuação dele vai muito além disso.
Ele muda a voz com um fraquejar, o que diminui a cadência da fala e aumenta a vulnerabilidade do personagem. Churchill era idoso na época, e tinha momentos em que parecia perder a lucidez, ainda mais quando estava estressado. E o filme deixa claro que a situação era estressante. O que cria cenas em que Oldman parece estar perdido dentro de si enquanto raciocina para salvar o país.
O ator é o carro chefe da produção, mas não é o único trunfo. Afinal, o diretor Joe Wright apresenta um diferencial em relação a outros que fazem filmes do estilo. Usa de raccords (técnica que conecta duas cenas com uma ligação entre os cortes) para criar ligações entre as ações de Churchill e as consequências das mesmas.
Em um momento em especial, ele faz um discurso para estimular a população inglesa na guerra, mesmo com conhecimento de que eram duramente rechaçados no território francês. As falas são sobrepostas por imagens devastadoras dos combates que transitam para as reações das pessoas que cercam o protagonista na trama.
Também é preciso destacar a iluminação do diretor de fotografia francês Bruno Delbonnel. Com a estética padrão, ele cria jogos de luz e sombra nas cenas. Quando uma pessoa se reúne com outra, a fonte de luminosidade vem de trás da cabeça de quem tem as informações procuradas pelo outro personagem. Da mesma forma, quando alguém está com o rosto tomado pela metade pela escuridão, é quando está com dúvidas ou esconde algo.
Um destaque é um diálogo entre Churchill e um dos rivais, quando uma lâmpada pendurada no teto balança e cria nos rostos dos dois um movimento baseado nos rumos da conversa. Em certa parte, um dos dois esconde um truque, e vai para o escuro, quando revela, fica iluminado. É uma ferramenta que Delbonnel gosta de usar.
À parte das qualidades técnicas, O Destino de uma Nação sofre com o roteiro de Anthony McCarten (um dos culpados por A Teoria de Tudo). Apesar de construir um suspense cercado pela situação política de Churchill, ele demora em cenas feitas para emocionar, mas que não precisavam da extensão que têm. Especialmente um momento feito para ser catártico, quando o primeiro ministro resolve conversar diretamente com a população para conseguir tomar decisões.
Tudo aqui cheira a filme feito para ganhar prêmios, desde o protagonista que se desfigura até a trama histórica feita para despertar uma catarse no espectador. Nada novo, mas nada de má qualidade também. E ainda ganha uma sessão dupla com Dunkirk, lançado mais cedo no ano.