Crítica por Jade Abreu.
O Exótico Hotel Marigold traz uma boa proposta. O filme reúne um grande elenco. É interessante ressaltar a presença de atores mais velhos como os protagonistas da história. Como uma espécie de “retiro”, todos partem para se hospedar no Hotel Marigold, comandado por Dev Patel (Quem Quer Ser um Milionário?). Com uma propaganda beirando a enganosa, o dono do estabelecimento cativa os visitantes, que se interessam pela estada no lugar. Aos tropeços, o filme levanta questões particulares e proporciona um final agradável para o estilo.
Cada personagem tem um problema específico: saúde, abandono, falta de dinheiro, tentativa de auto descobrimento, busca por exílio e, até mesmo, o passado. Todos, contudo, também passam pelo mesma adversidade: o tempo. O fato de terem envelhecido e se depararem com uma realidade na qual aparenta ser difícil recomeçar é a parte forte do filme. Entretanto, a película fica nisso.
Apesar de um bom começo – um daqueles que se espera um excelentíssimo final- o filme despenca no quesito qualidade. Essa é a maior falha dele. Uma mudança de comportamento tão rasa, que transforma em inexplicável a reação das personagens. O filme dá uma sensação de inacabado, de não concluído. Na verdade, é decepcionante porque levanta questões importantes, mas não as desenvolve.
Exemplo disso é a personagem da grande atriz britânica Maggie Smith, Muriel Donelly. No início do filme, ela demonstra ser racista e xenofóbica. Regada de muitos preconceitos, vai morar na Índia – onde fica o hotel – por ser mais barata uma operação médica. De repente, tem uma mudança de caráter e de comportamento. Ela aceita os outros, passa a ser admirada e ainda começa a dar conselhos, que guiam o resto do elenco. Em uma terra de gurus, a sabedoria ficar restrita às personagens inglesas é um pouco de prepotência, não?!
Dev Patel. Propaganda enganosa.
É perceptível em todo momento essa arrogância do primeiro mundo. Logo no começo do filme, a personagem da atriz Penelope Wilton, Jean Aisle, comenta “aqui até que é mais civilizado do que parece”. Em seguida mostra o trânsito caótico indiano, o que ridiculariza a situação. Até as ironias ao país também podiam ser melhores exploradas. Talvez com críticas à pobreza ou algo semelhante, porém faltou esse tipo de ousadia à história. A sra. Aisle é responsável por algumas das cenas mais críticas do filme.
Deve ser ressaltada a atuação de Maggie Smith. Sem dúvida, uma atriz brilhante, que só com um olhar já prende o telespectador. Ela consegue preencher a cena, mesmo imobilizada em uma cadeira de rodas. Outro ponto positivo é a ideia de roteiro. Acredito que, se fosse melhor explorado, poderia se enquadrar em um grande filme.
Judi Dench também impressiona. O filme é, inclusive, narrado por ela. A personagem cria um blog, no qual conta os dias em que passa na Índia, as pequenas aventuras, a luta pela independência – até então nunca alcançada. Porém, como o resto do filme, também apresenta falhas. Ela cria uma própria na web, faz do blog um diário, consegue um emprego de conselheira em call center, mas só fala com o filho por fichas de telefone e depois de dias. Será que não conseguiriam entrar em contato por outras plataformas on-line com o auxílio da webcam ou a personagem foi subestimada neste momento?
Grande elenco não esconde os defeitos da produção.
Apesar das falhas mais do que claras de roteiro, o filme é legalzinho. Tem um jeito fofo de encarar as mudanças de vida e uma nova realidade. É bom ver todos os atores compondo um elenco tão bom. Também é bom perceber o novo olhar do cinema para histórias com pessoas idosas em papeis de destaques. Com uma ideia tão legal, é uma pena que as melhores propostas tenham ficado restritas ao início. O roteiro conclui de forma tão simples o desencadear de cada personagem que até cansa um pouco. Mas pode apresentar um bom filminho para uma tarde à toa.
Gostei do filme, mas concordo que o óculos é bem britânico….