O Filme da Minha Vida é uma produção que engana o espectador. Depois de meia hora de projeção, parece que o diretor Selton Mello vai tratar de diversos temas de maneiras complexas, mas ele queria ser claro desde o começo. Tudo escondido pelo trabalho elaborado de fotografia e direção de arte.
Tony (Johnny Massaro) é um jovem do interior do sul do Brasil que volta para a cidade natal de Remanso e descobre que, no mesmo dia em que retornou, o pai Nicolas (Vicent Cassel), precisa voltar para a França e abandonar ele e a mãe. Depois de se estabelecer como professor local, o jovem vai para o centro urbano mais próximo para ajudar um aluno, mas descobre segredos no local.
Não é preciso mais de dez minutos para entender que O Filme da Minha Vida é sobre um jovem em busca da identidade própria depois de ser afastado do pai. É bem simples nesse sentido, o que não é negativo. O problema se encontra em como isso se encaixa com a linguagem escolhida por Mello para contar a história.
Com a ajuda de Walter Carvalho na direção de fotografia, a produção conta com enquadramentos belíssimos e significativos. A tonalidade das imagens é diminuída e cores douradas e quentes são fortalecidas, o que deixa todo o filme como se estivesse sob um filtro sépia. A intenção é fazer com que tudo pareça uma fotografia da década de 1960, levemente envelhecido na perda das cores, mas ainda bonito.
Carvalho e Mello aproveitam o estilo para realçarem as cores verde, azul e vermelho. O primeiro representa o mundo caseiro de Tony, e o segundo, o próprio personagem. O interessante aqui é o rubro, que está sempre nas coisas que ele quer ou às quais almeja. As irmãs por quem sente atração, Luna (Bruna Linzmeyer) e Petra (Bia Arantes), sempre têm algo de vermelho, em especial a primeira, que é ruiva.
Da mesma forma, o prostíbulo para onde os homens vão perder a virgindade local se chama casa vermelha e é tomado pela cor em todos os detalhes. Mais à frente na história, as descobertas que Tony fará sobre o pai estão ligadas aos tons rubros. Quando a jornada pessoal dele chega ao fim, ele começa a misturar a cor com azul nas roupas. Indicando que ele assumiu um pouco dos objetivos, sem perder a individualidade.
É lindo, feito para contar e enriquecer a história e entretêm quem está atrás de um filme bem feito e contemplativo. Porém, a história não tem o mesmo cuidado. Tony é um personagem que se resume a sentir falta do pai e à vontade de transar. No desenvolvimento dos conflitos dele, surgem absurdos como escolher ficar com a irmã que foi mais “correta”, sem importar quais os problemas ou as qualidades de cada.
As mulheres, diga-se de passagem, são as que mais sofrem com o roteiro. Todas não passam de interesse sexual de alguém. Nem a mãe de Tony se salva. Surpreendentemente, a que tem mais personalidade é uma prostituta. E mesmo ela é diminuída quando os anseios pessoais são usados como fonte de piada.
Na primeira meia hora de filme, Tony não tem falas além de um voice-over narrativo no começo e algumas palavras em francês durante uma aula. Parece uma característica do personagem, mas depois de várias cenas que repetem a busca dele pelo pai, fica claro que o filme não tem muito a falar. Não é que não existe conflito, mas é como se Mello tivesse pego um roteiro de curta e colocou um monte de cenas vazias no meio para preencher uma duração de longa-metragem.
Onde Mello acerta no texto é na comédia. Ver Tony ficar embaraçado nos quesitos sexuais é hilário. Além disso, o personagem do diretor no filme, Paco, gera muitas risadas como um grosseirão típico do interior da região sul.
Todo o elenco está muito bem ao seguirem uma linha mais contemplativa de interpretação. Eles sentem e transmitem as dores e angústias apenas com o olhar em momentos em que estão solitários. O francês Vincent Cassel (que vive no Brasil, o que explica a aparição frequente em filmes nacionais) e Bruna Linzmeyer são os melhores nisso. Ele por saber explorar as sutilezas em movimentos de boca ou ao levantar as sobrancelhas. Ela por saber fazer pequenos movimentos de cabeça que indicam interesses secretos.
Trata-se de um filme lento para quem gosta de obras com ritmos lentos. Com muita riqueza visual e detalhes na narrativa. Tudo tem um significado ou faz uma alegoria a alguma coisa, o que segura o espectador na produção. Infelizmente, falta conteúdo na história.