A origem do nome deste site não é segredo. Brincadeira com um dos movimentos mais revolucionários do cinema, a Nouvelle Vague (tradução literal de nova onda), a intenção do título era refletir como as influências e linguagens se tornaram velhas, e foram assimiladas pelos produtores convencionais.
Por isso mesmo, é tão difícil compreender a realização deste O Formidável, das mãos de Michel Hazanavicius. Entre todos os nomes da Nouvelle Vague, com certeza o mais famoso é o do polêmico Jean-Luc Godard, cuja vida é o foco desta cinebiografia. Se a renovação promovida pelo diretor não tem mais nada de novo, é difícil fazer a provocação que ele merece.
Em grande parte porque Hazanavicius é muito focado em estética, mas principalmente pela necessidade de ser histriônico com os temas que aborda. O que, ironicamente, é muito semelhante à pessoa do Godard, mas não ao cinema que ele fazia. Em certo ponto de O Formidável, o diretor francês é questionado sobre o que tem interesse real em fazer, cinema ou política.
Assim, Hazanavicius parece querer sussurrar para o espectador no cinema como a carreira de Godard depois de A Chinesa é questionável justamente por se afastar do tom que o diretor criou para mudar a arte. Mas, mesmo que seja uma sugestão, não há sutileza. É quase um grito incômodo sobre a figura real.
Porque o diretor de O Formidável faz questão de repetir aqui e ali os experimentos estéticos e de linguagem de Godard para apontar defeitos nele. Então há momentos em que a quantidade de imagens por segundo acelera e diminui, em que a imagem fica negativa e os diálogos quebrem eixos de perspectiva.
Pode-se dizer que são quebras estéticas bem feitas e que dizem algo em cada cena, mas tendem a repetir a mesma mensagem: que Godard é pedante. Trechos de película são retirados para que a imagem do personagem seja pausada repetidas vezes na cara de desilusão dele ao não se adequar a um movimento contra o governo em que tenta tomar parte.
A mesma proposta sugerida por Hazanavicius é passada pelo roteiro escrito por ele. É escolhido acompanhar a vida do diretor naquele momento em parte porque foi quando ele começou a mudar a forma de realizar filmes, como também é quando é possível acompanhar o relacionamento com a atriz Anne Wiazemsky (Stacy Martin), com quem foi casado.
Pelo que O Formidável retrata, o casamento dos dois foi tomado por abusos dele contra ela em diversos níveis. Começa devagar, com uma alfinetada cruel dele ao dizer que atores são desprezíveis porque não têm vontade, apenas obedecem. Uma passagem rápida pelo rosto de Martin revela a dor das palavras para voltar a Garrel, que parece entristecido com a perspectiva cruel de mundo que acabou de proferir. Ele é triste pelo que diz, mas não pelo sofrimento que causa nos outros.
Hazanavicius vai tão longe na crítica à pessoa de Godard que retrata a tentantiva de suicídio do diretor clássico com um gesto de abuso contra Anne. Porque ele seria tão necessitado de controlar o mundo com o qual discorda, e isso traz tanta frustração, que ele teria usado o suicídio para tentar impedir que a esposa o abandonasse. O que de fato seria uma grande maldade com ela, mas é uma sugestão muito pesada sobre um ato que ocorreu há muitos anos.
Se Godard é retratado como um menino mimado que queria manter o mundo sob rédeas curtas e sofria por não perceber que isso é impossível, Hazanavicius não compreende que é justamente o mal que ele mesmo sofre ao tentar atacar tão violentamente o personagem que busca retratar. É tão ou mais pedante que a representação que tenta criar.