Entre os clássicos do Natal dos Estados Unidos, estão coisas estupendas como A Felicidade Não se Compra ou Duro de Matar. Na televisão, além desses, é obrigatório a retransmissão do desenho animado de 1966 Como o Grinch Roubou o Natal, adaptação do livro homônimo do Dr. Seuss. Com isso, a rabugenta antítese infantil do Papai-Noel ganhou o imaginário popular relacionado à data.
O autor foi inteligente ao criar um personagem oposto ao natal para refletir os significados da data comemorativa. Cidadão recluso da Quemlândia, o Grinch (com voz brasileira de Lázaro Ramos) odeia as celebrações de fim de ano e decide roubar a festa dos conterrâneos.
Assim como o curta animado tem apenas 25 minutos, o livro tem menos de 70 páginas com pouco texto e muitas figuras. É uma história enxuta para mostrar para crianças que o Natal é mais que presentes e enfeites. Para encaixar em um longa-metragem, como ocorreu em 2000, com um live-action dirigido por Ron Howard e estrelado por Jim Carrey, é preciso rechear a trama.
Se na adaptação anterior foi construído um passado de rancor e preconceito por parte dos quens, a versão atual segue o caminho padrão dos estúdios Illumination: dar camadas e mais camadas de cenas de comédia visual. Para isso, os roteiristas Michael LeSieur e Tommy Swerdlow quebram os passos descritos em poucas linhas no livro em situações exageradas para o personagem.
Ele precisa de uma rena, então sai por uma nevasca, é atrapalhado por um bode montanhês que grita e afasta os animais, tem as roupas e os pelos congelados, depois é força a abandonar o único que encontra. Depois passa por penúrias para chegar ao trenó, além dos treinos com o equipamento, e por aí vai.
Apenas isso deve ocupar cerca de vinte minutos de projeção, que passa rápido para os que gostam do tipo de humor, e devagar para os que não gostam. Em cada situação, é colocado uma pequena demonstração dos valores do natal para que o espectador perceba antes do protagonista que ele, na verdade, não odeia as cerimônias.
Os diretores Yarrow Cheney e Scott Mosier aproveitam o humor visual para fazer com que a câmera viaje através dos cenários e, por vezes, de objetos. Então, quando o Grinch tenta jogar uma bola de neve gigante na árvore de natal da cidade e é arremessado por acidente, o espectador é arremessado junto e cai junto por entre os galhos.
Funciona dentro dos contextos das piadas, mas em muitos momentos o movimento é tão acelerado que, nos 24 quadros por segundo do cinema, as imagens ficam tremidas. Com isso, mesmo o trabalho técnico impecável que faz com que a neve, os líquidos e os pelos pareçam reais é perdido nos vôos de câmera que apenas os mostra quebrados.
O Grinch não tenta enganar sobre o que realmente é: uma animação voltada para crianças com as mensagens que são tão queridas ao criador do livro. A meninada vai rir e se divertir com o protagonista verde enquanto ele quica cai e brinca. Para os adultos, pode ser muito cansativo. Além disso, não há novidades ou nada mais profundo.
Nem mesmo em comparação ao outro filme do personagem. Como aquele representava um resquício do estilo que fazia sucesso na década de 1990 através da fotografia e do humor físico de Jim Carrey, este reflete os tempos atuais com adaptações de canções clássicas para o hip-hop com batida eletrônica e o humor físico dos minions.