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O Hobbit

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O Hobbit é um filme complicado. Retorno a um universo mostrado de forma tão adulta e poderosa como a trilogia O Senhor dos Anéis, é uma adaptação de um livro infantil. Então já fica difícil lidar com os momentos puramente infantis dentro de um universo tão sombrio e pesado. Por mais que a trilogia original tivesse elementos inocentes e ingênuos, não deixava de ser séria. Para fazer funcionar, Peter Jackson resolveu pegar elementos que foram explicados depois por J.R.R. Tolkien e acrescentá-los ao filme.

Começa com o estilo tradicional da franquia. Uma cena gigantesca explicando o contexto da aventura usando uma narração inteligente que nos coloca na ambientação rapidamente. Logo em seguida, temos quase dez minutos de cenas que servem apenas para remeter a um momento no começo do A Sociedade do Anel. Uma pequena enrolação desnecessária, típica do Peter Jackson. Mas logo a história volta aos eixos, mostrando o Bilbo, o hobbit do título, encontrando Gandalf e os treze anões que o levarão a sua aventura transformadora. Está tudo funcionando muito bem até que os anões começam a cantar uma música zombando o Bilbo. Uma sequência bizarra que explica muito bem o que são aquele monte de anões, um grupo de alívio cômico.
Melhor abraçar, certo? Vai ser um filme infantil, mas divertido.
Quinze minutos depois o filme dá um segundo background para o anão principal. Mostrando uma cena de uma violência absurda, com direito a um orc de quase três metros arrancando cabeças de forma bastante explícita.
Já surgem dois problemas sérios. O filme tem momentos infantis demais, de repente fica pesadíssimo, mudando de ritmo constantemente. Fica episódico. Temos uma cena enorme que conta uma aventurazinha menor dos personagens num tom infantil, depois temos outra cena enorme acrescentando à história paralela do grande mal que está ressurgindo na Terra Média. E ainda temos uma outra história que vem do segundo background de Thorin, o anão principal. São três tramas paralelas que não desenvolvem bem uma ao lado da outra e que só servem para deixar o filme longo demais.
São três os vilões do filme. O dragão, que supostamente é o grande vilão da história, não aparece. O orc gigante que toma quase todo o filme e proporciona as cenas mais violentas. E o certo mal que está tomando as florestas, que resulta nas cenas mais chatas do filme, como um diálogo gigantesco em Valfenda que não leva a lugar nenhum, só ao tédio.
Essa trama por sinal é uma das que mais incomoda, porque fica bem óbvio que ela está lá para servir de prequel direto para a trilogia original, não para ser um filme por si só.
Para piorar, a montagem é uma bagunça. Em uma sequência, que supostamente é o final do segundo ato, os personagens se dividem em dois grupos e a montagem não consegue dar a noção de ações ocorrendo ao mesmo tempo. O que ela faz é criar uma cena enorme com um grupo em um local e depois outra enorme com o outro grupo em outro. Fica uma sensação estranha de que estamos perdendo pedaços enorme de tempo na história.
A impressão que fica com todos esses problemas de roteiro é bem resumida nessa imagem.
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Na sequência que supostamente é o final do segundo ato do filme, começa uma perseguição de ação medonha. Em A Sociedade do Anel existe uma bem parecida na qual os personagens estão em uma escada desabando. É um suspense maravilhoso com os personagens tentando não cair e morrer. Em O Hobbit, vira uma cena de estripulias malucas, com os anões prendendo orcs pela cabeça em escadas, derrubando eles em abismos para em segundos usarem a mesma escada como ponte no mesmo abismo. Depois eles desestabilizam uma estrutura fraca e começam a cair numa queda gigante atravessando construções enormes com aquela mesma estrutura fraca destruindo tudo sem se fazer em pedaços. Lembra os piores momentos da trilogia Piratas do Caribe. Não tem história, só efeitos e maluquice.
Além disso tudo, incomoda também os Deus Ex Machina. Cada vez que Bilbo e os anões se metem em apuros, uma solução mágica surge. Seja ela na forma do mago Gandalf, de elfos ou de águias gigantes.
Por mais que existam esses defeitos de estrutura e roteiro, as cenas episódicas são um primor por conta própria. A dos anões na casa de Bilbo é divertidíssima e daria um filme por si só. O segundo background de Thorin, escudo de carvalho me fez sonhar com um Conan dirigido pelo Peter Jackson. É um dos tais “anões gatinhos” do filme, mas o personagem é impressionante. E Jackson fez a cena dele lutando contra o Orc gigante ser um espetáculo.

Thorin, melhor personagem do filme.
Thorin, melhor personagem do filme.

Continua sendo a mesma Terra Média que nos deslumbrou em O Senhor dos Anéis. Seu escopo e magnitude são nada menos que épicos. E Jackson, junto com a Weta a apresentam da forma apropriada.
Os atores estão todos bem. Martin Freeman é a encarnação de Bilbo, o Gandalf de Ian McKellen não precisa de elogios e todo o elenco de apoio serve bem a seu propósito, por pior ou melhor que este seja.
Quanto aos 48 quadros por segundo, é espetacular. Sempre que existe um movimento de câmera, parece que estamos movendo junto com ela. Existe uma sensação de movimento acelerado, mas não leva mais do que cinco minutos para acostumar. Quanto à magia dos 24 quadros, ela realmente desaparece, mas o faz para dar lugar a uma nova. Não fica um movimento natural, é uma outra coisa. Uma nova fantasia. Principalmente nas cenas com de grandes ambientes. Sem contar com o 3D, que nunca incomoda na nova tecnologia, apesar de não trazer nada de novo. É um realismo completamente diferente do que estamos acostumados.
Por outro lado, os 48 quadros fazem com que todos os efeitos pareçam falsos. Sejam eles computação, maquetes ou até mesmo as composições engenhosas que tornam certos personagens maiores que outros. O único efeito irretocável é o Gollum. Como o personagem é feito através de captura de movimento, ele fica mais realista que nunca em cena. Principalmente com o avanço da computação nesses nove anos desde a última vez em que o vimos.
Por sinal, a melhor cena do filme é de longe a cena do jogo de adivinhação entre Bilbo e Gollum. Uma maravilha, são dois grandes atores numa interação genial.
O Hobbit é isso, um monte de pequenos bons, e alguns muito ruins, episódios que se tornam chatos e mal montados em um conjunto de três longas horas. E sair depois disso pensando que ainda vão ter mais dois me fez dormir com mais vontade esta noite.
 
GERÔNIMOOOOOOOO…

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