Sabe aquele filme extraordinário que nunca precisou de uma continuação, mas quando esta vem é tão ruim que consegue diminuir a lembrança do original? O Senhor dos Anéis não era assim. Eram três filmes coesos e coerentes entre si que se somavam para contar uma mesma e épica história. A continuação que piora a memória da trilogia é a outra trilogia do mesmo diretor: O Hobbit.
O anão Thorin (Armitage) e sua companhia de 13 anões e o hobbit Bilbo (Freeman) conseguiram entrar na montanha com os tesouros de seus ancestrais e fazer o dragão Smaug (Cumberbatch) sair. O lagartão vai importunar a cidade de humanos na proximidade onde reside o arqueiro Baird (Evans). O humano se torna líder de seu povo e se vê entre uma vindoura batalha entre os anões, os elfos e os orcs. O filho do rei élfico, Legolas (Bloom) continua sua perseguição contra os orcs e se encontra em um triângulo amoroso com a colega e amiga Tauriel (Lily) e um dos anões. Enquanto isso, Gandalf (McKellen) está preso em uma fortaleza controlada pela sombra de Sauron (Cumberbatch de novo) e a ajuda está chegando através de Elrond (Weaving), Saruman (Lee) e Galadriel (Blanchett).
A Batalha dos Cinco Exércitos precisava cumprir um punhado de tarefas complexas. Tinha que eliminar ou minimizar os muitos defeitos dos dois primeiros filmes, fechar todas as várias tramas paralelas deixadas em aberto com o final do segundo e servir de conexão com O Senhor dos Anéis. Só pela extensa sinopse relatada acima, já dá para ver que a missão é difícil.
O roteiro escrito a oito mãos por Peter Jackson, Philippa Boyens, Fran Walsh e Guillermo del Toro cumpre a função o melhor possível. Com tantas tramas que precisam de conclusão, a narrativa fica recheada praticamente com cenas que são importantes para a história. Diversas das histórias paralelas continuam inúteis e soam fora de lugar. Quanto a ser conexão com O Senhor dos Anéis. Esse objetivo nunca foi muito lógico, parece apenas uma desculpa para que existam inúmeras cenas feitas exclusivamente para mimetizarem momentos da trilogia original. Passa a impressão de que a história de O Hobbit não se sustenta por si só e precisa lembrar constantemente o fã de que ele ainda está no mesmo universo dos filmes que ganharam aqueles montes de Oscar.
Na correria para passar por todas inúmeras conclusões paralelas para que o clímax do filme se foque novamente em Bilbo e a companhia de anões, muitos finais são fechados em poucos minutos. O gancho do filme anterior serve para uma cena de ação rápida e esdrúxula em que Baird confronta o dragão. Essa cena funcionaria muito melhor como clímax de A Desolação de Smaug que como primeiro ato corrido aqui. O mesmo se dá com o confronto entre Saruman, Elrond, Galadriel, Gandalf contra Sauron. É uma grande e rápida cena de ação que serviria muito bem como clímax paralelo à briga com o dragão. Os dois no começo deste filme parecem um clímax fora de lugar.Depois do grande começo climático, ele precisa dar continuidade à tal batalha dos cinco exércitos (dos quais, só contei quatro), que leva ao clímax do filme em si, com Thorin finalmente enfrentando Azog e Legolas enfrentando Bolg. E é isso, o roteiro esquece da enorme batalha que está acontecendo em um fronte para se resumir a esses conflitos menores. Quando termina, fica a impressão de que a batalha nunca foi muito relevante, apenas o conflito daqueles personagens.
Super seres confrontam Sauron. Melhor cena gasta na abertura do filme.
Como diretor, Jackson segue o mesmo esquema do roteiro. Muitas cenas que referenciam O Senhor dos Anéis com objetos de cenas repetidos, toque musical, ângulos e encaixe dos atores nos enquadramentos. Ele dirige cenas de ação muito bem. O conflito dos magos contra Sauron é um choque entre alguns dos maiores super-seres da terra-média. Cada choque de espadas e de magias parece um golpe maior que a vida e os efeitos em excesso nunca deixam a cena superficial porque é possível ver que são os atores ali. O mesmo não se dá quando a trama se desenvolve para os conflitos principais. Como Legolas e Thorin não são super-seres, seus confrontos precisam envolver escalas menores, mas a estrutura de roteiro exige um clímax pra eles, então Jackson estica e exagera as cenas e deixa de ser convincente dentro do universo para cair no ridículo. Em uma cena, Thorin fica olhando Azog por baixo do gelo até que o orc fura o pé dele. Deveria ser uma reviravolta de suspense na luta, mas parece mais uma gag dos Três Patetas. Porém, até o momento desses exageros finais, o filme segue com um bom ritmo e diversas cenas empolgantes, como o momento em que os elfos se unem aos anões para enfrentar os orcs.
O trunfo do filme reside mais uma vez na excelente direção de arte que cria diversas culturas diferentes, dos anões, dos elfos, dos humanos e dos orcs. A terra-média nunca foi tão rica, detalhada e colorida. O efeitos especiais também acrescentam ao brilho em muitos momentos. Quando chegam nos momentos em que Jackson exagera o que os personagens comuns conseguem fazer, tudo parece falso, mas isso é defeito maior do exagero das cenas que dos próprios efeitos. A fotografia também é um desbunde. A franquia da terra-média é uma das que mais usa de controle de luz em pós-produção e faz diferença. As cenas são lindas de se ver.
Martin Freeman faz muito bem o papel de Bilbo, concedendo ao personagem uma dignidade que advém da humildade. Pena que o personagem é um coadjuvante em seu próprio filme. Richard Armitage rebola pra interpretar os momentos em que Thorin precisa ser um herói magnânimo e um rei enlouquecido pelo poder, mas a transição entre as personalidades do anão não faz sentido algum. Não importa o quanto o ator se esforce. Luke Evans é um ator que consegue transmitir muita simpatia para seus personagens e Baird é, talvez, um de seus mais interessantes. Infelizmente, o personagem, que é o mais legal do filme, serve apenas para a primeira metade da produção e desaparece no clímax.
Luke Evans como Baird. Melhor personagem tem pouco destaque.
Orlando Bloom está sobrando como Legolas e sua história sem sentido que nada acrescenta ao filme, mesmo que ele se esforce para interpretar o elfo. O mesmo pode ser dito da Evangeline Lily, que tem momentos dramáticos pesados, mas cuja história serve apenas para aumentar a extensão do filme. Ian McKellen domina com facilidade interpretar o Gandalf. Hugo Weaving, Christopher Lee e Cate Blanchett fazem o mesmo com seus super personagens. O Benedict Cumberbatch usa seu vozeirão para dar vida ao dragão Smaug e Sauron, mas os dois vilões são menores e não merecem muito destaque.
No final, A Batalha dos Cinco Exércitos é o melhor filme da trilogia. A narrativa se foca no que deve, apesar de se perder muito em diversos momentos, muitas das cenas de ação são muito boas e o ritmo funciona. Espero pacientemente por alguma edição de fãs que pegue os três filmes e os resuma a um grande filme de duas horas.
FANTASTIC…
2 comentários em “O Hobbit – A Batalha dos Cinco Exércitos”